Impasse com Embratel pode comprometer cobertura eleitoral

As redes de TV aberta estão em uma sinuca: às vésperas das eleições, correm o risco de perder a ligação ao vivo com diversas cidades do interior do País, o que é fundamental para a cobertura jornalística que estava sendo preparada. O problema é que a Embratel não tem mais condições técnicas e interesse financeiro de manter os links analógicos de vídeo (chamado de serviço de TV programada) em diversos pontos do País. A opção da tele é a extensão do serviço SmartVideo, digital, hoje disponível em apenas em 11 capitais (São Paulo/SP, Rio de Janeiro/RJ, Porto Alegre/RS, Florianópolis/SC, Curitiba/PR, Belo Horizonte/MG, Brasília/DF, Goiânia/GO, Salvador/BA, Recife/PE e Fortaleza/CE).
Segundo Geraldo Cesar de Oliveira, coordenador de família de serviços da Embratel, responsável pelos links oferecidos aos radiodifusores (inclusive o SmartVideo), há muitos anos a empresa alerta para o sucateamento da tecnologia analógica. "Hoje, é impossível manter o serviço analógico, até por falta de peças de reposição. As emissoras foram avisadas em 2001 que a TV programada seria descontinuada. Desde então, estamos negociando, mas hoje é impossível manter o serviço, que além de deficitário, pode falhar por razões técnicas a qualquer momento".
As emissoras têm sua versão para o problema. Pagavam valores bem inferiores ao cobrado pelo SmartVideo e o link analógico estava disponível para quase qualquer região do País. Isso não acontece com o serviço digital, mais caro e restrito a 11 cidades. "Negociamos com as emissoras e chegamos a um acordo que deveria ter sido assinado no final de agosto. Elas assumiriam, juntamente com a Embratel, o ônus de expandir o SmartVideo para regiões que fossem do interesse das redes", diz Oliveira. A queixa dos radiodifusores é justamente por conta do rateio destes custos com a tele. Consideram que estariam bancando a expansão dos links. Vale lembrar que o serviço analógico foi montado para as emissoras em um período em que o Estado era controlador da Embratel e era interessante manter este relacionamento, mesmo que subsidiado.

Notícias relacionadas
Romeu Paris, diretor de operações do SBT, explica que as emissoras já aderiram ao SmartVideo nas cidades em que ele é a opção natural. Disse que o contrato com validade de dois anos prevê 10 mil minutos de utilização por mês – o excedente é pago à parte, com descontos progressivos. Porém, o valor da minutagem, previsto nesse contrato, foi triplicado. ?Isso mexeu com o orçamento de todas as TVs?, alegou Paris. ?Acredito que, em princípio, ficaremos apenas com as 11 praças e encontraremos alguma alternativa para trazer o material das outras praças para o SBT em São Paulo?, completou.
Demonstrar o interesse em novas praças praticamente significa ajudar a bancar a implantação da transmissão digital da Embratel, dizem os radiodifusores. As emissoras interessadas terão que pagar uma espécie de aluguel mensal para utilizar determinados pontos de presença. A provedora do serviço estabeleceu valores diferenciados para cada município. Para se ter uma idéia, se uma emissora quiser o serviço SmartVideo em Uberlândia/MG ou João Pessoa/PB terá de pagar R$ 8 mil para cada uma delas por mês. O montante sobe para R$ 33 mil se o interesse for São José do Rio Preto/SP ou Governador Valadares/MG e atinge a quantia de R$ 49.416 para Petrolina/PE. Os montantes referem-se ao caso de uma única emissora aderir à proposta, mas ele não é divido ao meio se duas entrarem no projeto – por exemplo, uma cidade onde o valor individual do serviço custa R$ 46 mil para uma rede, custa R$ 37 mil para duas e R$ 32 mil para três. E isso fora a minutagem para utilizar o sistema, atualmente em torno de R$ 4,65 por minuto, independente da localização.
As emissoras já consideraram acordo com a Telemar, mas, além de não estar presente em todo o Brasil, utiliza modulador de áudio e não de vídeo. Sua adaptação exige investimentos relativamente altos. Outra alternativa é alugar uplink de satélite, que também é mais caro e ainda mais complicado. Enquanto isso, as principais cabeças de rede, como Globo, SBT, Bandeirantes e Record tentam chegar a um acordo com a Embratel. Elas pretendem bancar alguns municípios e oferecer permuta para outras cidades. Invariavelmente, porém, algumas retransmissoras terão de deixar de contribuir com entradas ao vivo para os telejornais e com a transmissão de eventos esportivos. E as notícias podem voltar a ser despachadas por avião ou ônibus, dependendo de sua importância.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
CAPTCHA user score failed. Please contact us!