Em meio aos desafios existentes relacionados à expansão da conectividade no País, o avanço na cobertura de fibra óptica é visto como fundamental para a oferta de serviços. Para isso, porém, há aspectos que precisam ser direcionados, a exemplo dos altos custos com postes, a crise das fabricantes locais e a expansão do 5G – tudo isso em meio à redução de investimentos das operadoras.
A avaliação de executivos do setor foi apresentada nesta segunda-feira, 5, durante o Netcom, evento de infraestrutura de redes, telecom e provedores, que acontece nesta semana em São Paulo.
"O Brasil é diferenciado em relação à demanda e sobre o que temos de fibra óptica espalhada pelo País", reconheceu o consultor da Vivo, Daniel Vagner. A operadora é dona da maior base da tecnologia no País e tem liderado as novas ativações do serviço em 2024.
Na Vivo, hoje, o esforço é utilizar a fibra para melhorar os serviços da tele, em especial ao lado do 5G. "O grande desafio é como utilizar essa rede em meio à redução do capex (investimentos), porque o dinheiro está diminuindo", indicou. O cenário de um menor volume de recursos também foi indicado por fabricantes
"As operadoras hoje estão com capex reduzido, [então] nós também temos que inovar. Todos precisam acertar o tiro no lugar correto", afirmou o CEO da YOFC Brasil, Reinaldo Jeronymo, lembrando o momento adverso para os fornecedores de equipamentos.
A situação também foi abordada pelo diretor de telecom da Prysmian, Cleber Pettinelli. "Queremos continuar investindo. Temos uma fábrica de cabos ópticos e outra de fibras ópticas, que tem 40 anos interruptos no País. Infelizmente, nesse momento a gente está passando por um momento de crise", afirmou o executivo, clamando por "um nível de competitividade leal".
"Os produtores nacionais têm capacidade para atender a demanda nacional, mas a importação afeta a capacidade que os produtores têm. A gente está trabalhando em processos antidumping, para viabilizar uma concorrência mais leal com o mercado local. Temos uma discussão com o governo, com boas perspectivas", afirmou Pettinelli.
Postes
Outro ponto abordado pelos executivos durante o debate sobre fibra óptica passa pela infraestrutura de postes. Além da indefinição das novas regras para ocupação dos ativos, um dos aspectos em discussão foi o enterramento de cabos, que pode ser mais seguro, mas que também é considerado muito custoso.
Gerente de engenharia de redes e infraestrutura da Claro, Ricardo De Luca afirmou que a operadora testou uma solução de microdutos e cabos que pode reduzir esses gastos com postes em até 30%. No entanto, o desembolso elevado para fazer a recomposição de uma obra na cidade de São Paulo, por exemplo, seria inviável financeiramente.
"A situação de infraestrutura é muito cara, e esse custo inviabiliza. O custo de cabo subterrâneo é cerca de cinco vezes mais caro do que a via aérea. Então, vai ser muito difícil chegar a uma solução que escape das vias aéreas nos postes", diz.
Uma alternativa à complexidade dos postes é utilizar microcabos e cabos ópticos BLI (Baixa Sensibilidade à Curvatura), diz Vagner, da Vivo. Ele explica que em projetos como os de data centers, que contam com um número elevado de fibras, o enterramento dos cabos faz sentido. Já para operadoras de banda larga, a empresa não vê essa necessidade, a não ser em casos de backbones.
5G
A respeito da oferta de banda larga fixa com redes móveis (FWA) 5G, o porta-voz da Claro diz que, apesar de funcionar muito bem, a maior barreira também é torná-la acessível ao consumidor final. "Não tem a ver com tecnologia, mas com os custos envolvidos", diz De Luca.
CEO da YOFC Brasil, Reinaldo Jeronymo tem uma opinião similar. Ele acredita que a FWA traz uma despesa maior para as empresas, mas que a tecnologia é necessária para regiões em que há dificuldades para a instalação de fibras ópticas. "As tecnologias não são concorrentes, mas, sim, são complementares."
Em paralelo, a fibra também é tida como tecnologia essencial para o suporte das redes de quinta geração. "Nós não vamos conseguir oferecer uma qualidade no 5G sem uma boa fibra para poder acessar os sites próximos", afirma Daniel Vagner, da Vivo. Na Claro, a fibra também é vista como um impulsionador do 5G.