Uma das principais entidades representativas da cadeia brasileira de telecomunicações, a Associação Neo completou 25 anos de atuação nesta segunda-feira, 5.
Em entrevista ao TELETIME, o presidente executivo da entidade, Rodrigo Schuch, abordou algumas das principais conquistas, expectativas e planos da associação, Entre eles, o desejo de contribuir com uma "disrupção" no mercado móvel, a partir da entrada de novos players regionais no segmento.
"Nosso principal mote é a competitividade. A gente nasceu assim em 1999 [ainda como Associação NEOTV], com 12 empresas que não conseguiam negociar de forma competitiva o conteúdo na TV por assinatura. Sempre fomos voltados para a competição e nos próximos 25 anos não será diferente", afirmou Schuch.
Assim, a expectativa é que a principal fronteira de discussão seja a telefonia móvel, onde a Neo projeta uma abertura de mercado similar à vista na banda larga na última década. "Isso certamente ocorrerá nos próximos cinco anos, seja através dos serviços de SMP [telefonia móvel pessoal] com as frequências que foram comercializadas, ou via disrupção das MVNOs", projetou Schuch.
Os próximos leilões de espectro formatados pela Anatel devem ser uma das frentes prioritárias neste horizonte. "Novos leilões virão e vamos brigar que tenha sempre a possibilidade de regionais realizarem a aquisição de frequências".
No geral, a Associação Neo entende que houve avanços no cenário regulatório nos últimos anos, mas que ainda há diversos pontos de atenção para os desafiantes no mercado móvel. Um exemplo são as regras para o roaming permanente, onde a entidade ainda espera uma definição da Anatel mais favorável aos entrantes.
Hoje a Neo representa cerca de 200 provedores regionais com mais de 14 milhões de assinantes na banda larga no País.
Entre os associados da Associação Neo estão operadoras que estão apostando em redes móveis e 5G, como Brisanet, Unifique e Algar, bem como um amplo leque de provedores regionais que inclui Desktop, Alares e Alloha Fibra.
Na conversa com TELETIME, Rodrigo Schuch rechaçou a visão da Associação Neo como representante de "médios provedores". Ele apontou que hoje, 20% dos associados da entidade são empresas optantes pelo Simples Nacional, com operações de escala menor, muitas vezes inferiores aos 5 mil acessos.
Mesmo entre os principais provedores (como a Alloha, com cerca de 1,6 milhão de assinantes), a proporção não seria comparável aos grandes grupos de telecom. Schuch nota que a apenas a Vivo possui 114 milhões de acessos (na soma de telefonia móvel, fixa, banda larga e TV paga), sendo que a TIM, com 63 milhões, é maior que a soma de todos os provedores.
Já em termos de infraestrutura, a rede construída pelo agrupamento de provedores regionais é vista como trunfo. Hoje a soma dos associados reúne cerca de 500 mil km de redes de fibra óptica em mais de 5 mil municípios. A malha seria maior que a V.tal, afirma Schuch, ao passo que os 14 milhões de clientes atendidos superam a base de 10 milhões da Claro, líder da banda larga nacional.
As operações de fibra, contudo, também estão atravessando desafios com a pauta regulatória intensa. Entre eles, a incerteza gerada pela decisão da Aneel de reiniciar o debate sobre o compartilhamento de postes. "Estávamos indo bem, mas deu-se esse passo para trás", lamentou Schuch.
Inclusão digital
Ao TELETIME, o presidente da Associação Neo também apontou que a inclusão digital no Brasil não é um tema superado. "Ainda que a penetração de banda larga fixa e móvel seja superior aos 70%, temos muito espaço para crescer", afirmou Rodrigo Schuch.
O diagnóstico se conecta com demandas da agenda de governança ambiental, social e corporativa (ESG) que tem ganhado força entre os provedores regionais. "Daqui para a frente isso será primordial", afirmou o executivo da Associação Neo – que se tornou neste ano parceira do Pacto Global da ONU – Rede Brasil.
Na função, a entidade tem incentivado que associados se tornem signatários dos compromissos para o alcance dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – especialmente o ODS 9 de "aumentar significativamente o acesso às tecnologias de informação e comunicação e se empenhar para oferecer acesso universal e a preços acessíveis à Internet nos países menos desenvolvidos".
Negociadora
Um dos aspectos vistos por Schuch como um diferencial da Associação Neo seria o perfil de "negociadora" de parcerias em favor das empresas associadas. A característica está na origem da entidade, fundada para viabilizar a compra de programação de TV paga por provedores independentes.
Desde 2019, a associação passou a incluir novos parceiros na atividade de negociação, como serviços de valor adicionado (SVAs), plataformas de streaming e outros OTTs. Schuch relata que a entidade tenha cerca de 30 parceiros passíveis de inclusão em pacotes das associadas, com condições negociadas pela Neo e ajuda de um "hub" para acelerar integrações.
A ampliação desse leque é um objetivo declarado da entidade. Rodrigo Schuch vislumbra no futuro a Neo realizando a negociação coletiva de equipamentos, banda ou mesmo de tráfego internacional, aproveitando a experiência já conquistada em outros elos da cadeia. "Talvez os próximos 25 anos sejam ainda mais intensos que os últimos 25", afirmou.