Acordo Embraer/Boeing não afeta diretamente a Visiona, mas pode haver reflexos

A compra da divisão comercial da Embraer pela Boeing anunciada nesta quinta, 5, por US$ 3,8 bilhões, não afetará, pelo menos em um primeiro momento, a Visiona, empresa criada em 2011 no contexto do desenvolvimento do programa do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação (SGDC) para absorver tecnologia espacial e integrar o processo de construção do satélite. A Visiona é uma joint-venture entre a Embraer Defesa e Segurança (51%) e a Telebras (49%). A Embraer Defesa e Segurança não está sendo adquirida pela Boeing na operação recém-anunciada, e por isso a Visiona ficou fora do acordo. Além disso, o Acordo de Acionistas entre Telebras e Embraer garante às partes o direito de compra da participação da outra parte em caso de mudança de controle, entre outras salvaguardas. Ou seja, no limite, o governo brasileiro, via Telebras, poderia assumir a integralidade do capital da Visiona. Segundo apurou este noticiário, até o momento não houve nenhuma discussão mais ampla sobre qualquer possibilidade de mudança de rumo, estratégia e missão da Visiona. Na área militar do governo, que tem contratos com a Visiona, há uma grande preocupação com a preservação do controle nacional da empresa, ainda que não haja nenhum sinal de alerta sobre conversas em outro sentido.

Mas é possível especular sobre possíveis reflexos da entrada da Boeing na Embraer e o futuro da Visiona. O primeiro é o simples fato de que a Boeing é uma das maiores empresas fabricantes de satélite do mundo. No processo de seleção do fornecedor do SGDC, empresas norte-americanas ficaram de fora porque existe uma severa regulamentação dos EUA sobre a transferência de tecnologia de uso militar e espacial norte-americana, especialmente o International Traffic in Arms Regulations (ITAR). Por estas regras, a transferência tecnológica pleiteada e contratada pelo Brasil no âmbito do SGDC, sob responsabilidade da Visiona, seria impossível. Tanto que o fornecedor escolhido foi a Thales Alenia, cuja tecnologia é 100% europeia. Com o casamento entre Boeing e Embraer, algumas portas poderiam se abrir para empresas norte-americanas.

Por outro lado, a joint-venture da Embraer com a Boeing prevê parcerias de investimentos conjuntos e busca de novos mercados na área de defesa e ainda acordos para suporte entre a área comercial e a Embraer Defesa e Segurança. Não se sabe como essas ações conjuntas podem afetar as decisões que serão tomadas pela Embraer na Visiona. Além disso, os investimentos estratégicos da Embraer devem passar a obedecer uma lógica mais alinhada aos interesses e projetos em parceria com a Boeing, o que também coloca dúvidas sobre como a Visiona pode ficar. A Embraer Defesa e Segurança tem uma receita anual de pouco menos de US$ 1 bilhão, contra US$ 3,3 bilhões da área comercial (vendida para a Boeing) e US$ 1,5 bilhão da área de aviação executiva. Já a visiona é uma empresa que em 2017 teve uma receita de R$ 25 milhões e um custo operacional de R$ 19 milhões.

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Tudo isso em um momento em que o governo começa a discutir a possibilidade de contratar o segundo Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação. Lembrando que quando o SGDC 1 foi comissionado, houve uma contratação específica da Visiona para o projeto. Ou seja, nada garante que a empresa teria automaticamente a missão de atuar como integradora do SGDC 2. O que já houve de transferência de tecnologia na experiência do SGDC 1, entretanto, está hoje sob o guarda-chuva da Visiona.

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