Um levantamento do Instituto de Pesquisas para a Economia Digital (IPE Digital) aponta que a infraestrutura de 5G nas principais capitais brasileiras está abaixo do mínimo recomendado pela União Internacional de Telecomunicações (UIT). Para alcançar a cobertura ideal, seria necessário um aumento médio de 23% no número de estações rádio base (ERBs), mostra o levantamento.
Segundo Agostinho Linhares, diretor do IPE Digital, a provocação para a pesquisa do tema veio a partir da Abrintel, que representa empresas de infraestrutura torres. Mas, segundo ele, o assunto envolve demanda por maior cobertura por 5G, com foco em estradas e utilizando o toolkit da UIT, além de cobertura em estrada. Segundo ele, o adensamento deve ser visto não apenas como uma relação ERB/habitante, mas também deve ser considerada a cobertura.
A base de comparação usada é o Toolbox for 5G Network Planning. Trata-se do modelo de referência publicado pela UIT que define parâmetros mínimos para garantir qualidade e cobertura adequada em redes de quinta geração.
Entre as dez cidades analisadas, apenas o Rio de Janeiro apresenta uma leve sobra de ERBs — 1% acima do mínimo estimado. Já Goiânia e Curitiba enfrentam os maiores déficits, com necessidade de ampliação de 70% e 50%, respectivamente.
Maior mercado móvel do Brasil, a cidade de São Paulo conta hoje com 7,2 mil antenas 5G. Levando em consideração o modelo exigido pela UIT, o município precisaria ter mais de 9 mil ERBs – 26% a mais que o atual.
Em Brasília, essa diferença sobe para 33%. Segundo a análise do Instituto, esse cenário pode comprometer a qualidade do serviço e a capacidade de atendimento da rede diante do crescimento acelerado da demanda por conectividade móvel de alta velocidade. Atualmente, o Brasil possui cerca de 48 mil ERBs 5G.
Futuro
Considerando um crescimento de tráfego 5G na ordem de 10% ao ano, o IPE Digital aponta que, até 2029, as cidades analisadas precisarão de uma densificação média de 39% na quantidade de ERBs para atender apenas à demanda dos usuários móveis. Em São Paulo, por exemplo, o total de estações precisará quase dobrar (+95%) — passando de 7.214 para 14.069.
Capitais como Goiânia e Curitiba também precisam de forte crescimento na infraestrutura, com aumentos de 70% e 52%, respectivamente. Mesmo cidades com redes mais próximas do ideal, como Recife e Fortaleza, precisarão continuar expandindo para evitar gargalos.
Diferenças regionis
O estudo aponta que o Brasil avançou com a entrega de rede móvel apesar das lacunas, mas pondera: "A densificação tem sido priorizada em áreas já atendidas, em detrimento de uma distribuição mais geográfica, mais equalitária, resultando em infraestrutura inadequada em vilas, áreas urbanas isoladas, aglomerados rurais e rodovias".
"O adensamento não deve ser visto apenas como uma relação ERB/habitante, mas também deve ser considerado a cobertura, incluindo o atendimento de cidades, vilas, áreas urbanas isoladas, aglomerados rurais e rodovias que não disponham desse tipo de infraestrutura", destaca o estudo.
Vale lebrar que as exigências de cobertura foram definidas pela Anatel e pelas políticas públicas nos editais de espectro. A partir documprimento dos compromissos, as operadoras seguem critérios comerciais para ampliar a infraestrutura. Há ainda políticas públicas fomentadas pelo Fundo de Universalização das Telecomunicações e outros compromissos regulatórios que também podem estimular a ampliação da cobertura em áreas não rentáveis. (Colaborou Samuel Possebon)