Discreta, Huawei ignora hostilidades e aposta em demonstrações reais de 5G

Ministro Fábio Faria em visita ao estande da Huawei durante o Digital Day

Apesar dos constantes sinais de animosidade do governo em relação à China, a Huawei parece empenhada em manter uma relação de otimismo em relação ao 5G no Brasil. Em conversas reservadas, os executivos mostram absoluta confiança de que estarão nas redes comerciais de 5G no Brasil, mantendo o espaço que hoje ocupam com o 4G. E numa prova de disposição, a empresa montou o maior espaço de demonstração entre os que foram construídos pelos diferentes fornecedores no Digital Day, evento realizado pelo Ministério das Comunicações para promover o 5G, como parte da Semana das Comunicações, que acontece em Brasília.

A fabricante trouxe uma quantidade significativa de aplicações já implementadas de 5G rodando em situações reais na China. E pelo menos duas delas rodando de forma real no Brasil: um robô sincronizado via 5G com o centro de distribuição da Huawei em Sorocaba; e uma aplicação de monitoramento via 5G e inteligência artificial para agropecuária, que está em operação em uma fazenda modelo em Rio Verde (GO). Além disso, a empresa vai apresentar pelo menos mais dois pilotos de 5G com diferentes operadoras dentro do cronograma pensado pelo governo para divulgar a tecnologia.

Desconfortos

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Mas foi preciso superar alguns desconfortos. O dia começou com o presidente Jair Bolsonaro insinuando em discurso que o vírus Covid-19 teria sido criado em laboratório para ser usado em uma guerra biológica, inferindo benefícios aos chineses. "Vejam qual foi o PIB que mais cresceu (em 2020). Eu não vou dizer", disse ele, em clara referência à China. O pronunciamento aconteceu logo depois de Bolsonaro ativar uma rede 5G standalone no Palácio do Planalto viabilizada por uma parceria entre TIM e Ericsson. No começo do mês passado, ele já havia realizado uma chamada de voz por meio de uma rede 5G utilizando a rede da Vivo e equipamentos Nokia.

Após o pronunciamento, Bolsonaro foi ao Congresso visitar as demonstrações de 5G. Mas o presidente não passou pelo estande da Huawei. No desvio, acabou deixando a Qualcomm de fora também. Foi preciso, à tarde, uma visita do ministro Fábio Faria, das Comunicações, para desfazer o mal estar. Faria se deixou fotografar ao lado de executivos da Huawei e acompanhando a demonstração. TELETIME também testemunhou a visita dos senadores Eduardo Gomes (MDB/TO), Soraya Thronicke (PSL/MS) e o deputado Ricardo Ferraz (Pros/PR) ao estande da Huawei acompanhando o ministro.

Ao longo da montagem das demonstrações, contudo, algumas mudanças de última hora deixaram as empresas envolvidas no projeto do Digital Day desconfiadas de que havia algum problema com a presença da Huawei. Primeiro, houve uma mudança de planos passando a exposição do Planalto para o Congresso. Depois, houve a determinação para que todas as marcas fossem removidas dos estandes, o que afetou a todos, ainda que no caso da Ericsson e da TIM os nomes das empresas tenham sido citados pelo ministro Fábio Faria no lançamento da rede 5G. Conforme revelou o Portal 360, a retirada das marcas se deu por conta da Huawei. A publicação revelou ainda documento interno do Ministério das Comunicações divulgado no Congresso e que listava entre os projetos-piloto uma demonstração de uma rede privativa "sem Huawei". Essa demonstração, na verdade, era a rede TIM/Ericsson instalada no Planalto, mas que não se destina a comunicações seguras. Era apenas uma demonstração da viabilidade de uma rede 5G standalone em situação real de operação. O Ministério das Comunicações respondeu ao Poder 360 dizendo não haver veto à Huawei.

Análise

De fato, Fábio Faria já disse que não haverá interferência do governo na escolha das operadoras em relação aos fornecedores de suas redes comerciais e que esse processo seguirá regras de livre mercado. Seus auxiliares destacam que o ministro tenta fazer uma costura diplomática entre diferentes atores do governo, ainda muito hostis aos chineses (incluindo o próprio presidente), as áreas mais pragmáticas (como Agricultura e Infraestrutura) e, obviamente, as operadoras de telecomunicações.

Se de um lado Fábio Faria diz que não haverá veto na rede comercial de 5G, ele também já destacou que na rede segura planejada para o governo haverá critérios adicionais relacionados à governança das empresas, que ele entende que excluiriam a Huawei. Esta solução híbrida, segundo ouviram interlocutores do ministro, foi justamente para preservar a atuação da Huawei no Brasil, mas ao mesmo tempo dar uma satisfação a Bolsonaro e seus apoiadores. Mas é notável nas redes sociais do ministro (especialmente Twitter), que não há referência à fabricante chinesa, exceto pela visita feita em fevereiro à sede da empresa em Shenzhen.

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