Na esteira da confirmação da guerra comercial entre Estados Unidos e parceiros do país como o Canadá, o governador de Ontário, Doug Ford, confirmou o cancelamento do contrato de US$ 68 milhões (100 milhões de dólares canadenses) que detinha com a Starlink. Ontário é a principal província econômica do país canadense.
A parceria entre a província de Ontário e a companhia de satélites de Elon Musk foi fechada em novembro, no âmbito do programa Ontário Satellite Internet (ONSAT). O negócio previa o fornecimento de internet de alta velocidade via satélite para 15 mil residências e empresas que não possuem ou contam com o serviço de forma limitada com foco em comunidades rurais, remotas e do Norte do território.
Em coletiva de imprensa realizada na última terça-feira, 4, Ford também anunciou a retirada de bebidas alcóolicas das lojas de Ontário em resposta aos EUA. "Como parte desta proibição governamental geral de compras, estamos indo um passo além. Estamos cancelando o contrato de Ontário com a Starlink. Acabou", disse ele.
"Não concederemos contratos a pessoas que possibilitam e incentivam ataques econômicos contra nossa província e nosso país. Junto com as tarifas federais e as medidas que meus colegas primeiros-ministros estão implementando, esta é a resposta inicial do time Canadá", completou Ford.
O governador lembrou que Musk integra oficialmente o governo Trump, atuando no Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês). Ele ainda notou que o empresário estudou na Queen's University, uma universidade localizada em Ontário.
"É uma questão de princípio cancelar [o contrato com] a Starlink para o braço direito do presidente Trump, Elon Musk. E não é irônico que ele tenha sido educado, que parte de sua educação tenha sido na Queen's, e agora ele está atacando o país e a província que lhe deram a oportunidade de estudar na Queen's University?", questionou. "Ele deveria se envergonhar de atacar as pessoas que cuidaram dele e de sua família por vários anos."
Além disso, Ford ainda advertiu os congressistas de Nova York, Michigan e Minnesota que, caso a disputa comercial persista, a província de Ontário deverá taxar em 25% a energia exportada para esses estados.
O caso
A possiblidade de romper o contrato com a Starlink foi levantada por Ford no início de fevereiro, após Donald Trump assumir seu novo mandato como presidente dos Estados Unidos e ameaçar taxar produtos canadenses em 20%. O Canadá é o maior parceiro comercial dos EUA.
À época, a Casa Branca chegou a anunciar a imposição de tarifas da ordem de 25% sobre produtos oriundos do Canadá e do México, além de outros 10% sobre mercadorias produzidas na China. A argumentação é que essas nações colaboram com a entrada de drogas e imigrantes ilegais em território americano, o que é refutado por esses países. Depois de um acordo, a disputa foi suspensa por 30 dias.
Na última segunda-feira, 3, porém, Trump confirmou a abertura da guerra comercial. O governo do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, então respondeu com a taxação de 25% sobre 155 bilhões de dólares canadenses (cerca de US$ 108 bilhões) em mercadorias importadas. A primeira fase da iniciativa começa com tarifas de 30 bilhões de dólares (US$ 21 bilhões) sobre produtos que vão desde suco de laranja e pasta de amendoim até vinhos, cafés, motocicletas e cosméticos, entre outros.
Diante de jornalistas, Trudeau fez um duro discurso contra Donald Trump e argumentou que o País é o maior aliado dos EUA. "Os canadenses são razoáveis e educados, mas não recuaremos de uma luta. Não quando nosso país e o bem-estar de todos que nele vivem estão em jogo", afirmou Trudeau.
O primeiro-ministro canadense também declarou que vai contestar as medidas da Casa Branca na Organização Mundial do Comércio (OMC) e por meio do tratado de livre comércio Estados Unidos-México-Canadá (USMCA, na sigla em inglês).
"Enquanto isso, nossas tarifas permanecerão em vigor até que as tarifas dos EUA sejam retiradas, e não um momento antes. E, caso essas tarifas não cessem, estamos em discussões ativas e contínuas com províncias e territórios para buscar várias medidas não tarifárias. Medidas que demonstrarão que não há vencedores em uma guerra comercial", completou o primeiro-ministro.