A Asiet, organização de empresas para estudos de temas de telecomunicações da América Latina, divulgou nesta quarta-feira, 5, durante o MWC 2025, que aconteceu em Barcelona, um estudo elaborado por Bruno Sória, da consultoria Nera, sobre a sustentabilidade das redes de telecomunicações na região. Segundo Sória, o cenário latino-americano é mais desafiador para as empresas de telecom em relação a outras regiões.
Segundo a estimativa do analista, para dar conta das necessidades de ampliação da rede, as operadoras de telecomunicações deverão fazer investimentos de US$ 49 bilhões até 2030, em um cenário de significativa redução das margens de retorno, em contraposição às margens das empresas usuárias das redes de banda larga, que tiveram ganhos no mesmo período.
Durante o evento de lançamento do estudo, algumas das operadoras de telecom que se manifestaram foram bastante pessimistas e chegaram a falar que a continuidade da operação em alguns países estava simplesmente ameaçada, sobretudo nos mercados de menor renda.
O estudo aponta ainda as assimetrias regulatórias, tributárias e legais que serviços de Internet concorrentes aos serviços tradicionais de telecom gozam, e chama a atenção para a necessidade dos reguladores de buscarem ajustes.
Segundo Maryleana Méndez, secretária geral da Asiet, o estudo evidencia uma realidade mais desafiadora das operadoras na América Latina, que se contrapõe à realidade norte-americana e mesmo europeia, onde os dados financeiros das operadoras e a capacidade de renda da população são bastante distintos. "Os EUA têm uma receita média bastante maior e uma regulação mais leve. O que buscamos com o estudo é alertar os reguladores da América Latina para a necessidade urgente de ações", diz.
A proposta, segundo ela, não prevê um modelo único para todos os países. "Entendemos que cada mercado tem uma realidade. Mas, em regra, entendemos que os reguladores devem trabalhar para melhorar a rentabilidade das empresas que constroem infraestrutura por meio da desregulamentação e redução das cargas fiscais. Além disso, é importante que os serviços OTT sejam considerados nos mercados relevantes para fins de análise concorrencial, e que as empresas digitais tenham um tratamento regulatório distinto dos usuários finais".
Para ela, também é fundamental que os reguladores facilitem o acesso ao espectro, bem essencial para a conectividade, e considere na equação de valores pelas frequências justamente esse cenário desafiador de investimentos.
Ela também não vê riscos desta discussão ter implicações nas relações comerciais dos países latino-americanos com o governo dos EUA. "Cada país é soberano de proteger sua indústria e seu comércio. As empresas de Internet estão prestando serviço, e precisam ter responsabilidade compartilhada. Não precisa ser um network fee. Pode ser, por exemplo, a oferta de mais CDN, ou um acordo comercial que favoreça a todos. Seria ótimo, mas algumas regulações locais proíbem esses acordos ou a gestão de tráfego. É preciso olhar caso a caso".
Ela diz que a Asiet está especialmente atenta às movimentações na Colômbia e Peru, onde os reguladores estão em processo de avaliação do problema, como aconteceu com o Brasil, onde a Anatel abriu uma tomada de subsídios e em breve deve decidir sobre a consulta pública do regulamento de grandes usuários.