Se a tendência tecnológica do Mobile World Congress, que aconteceu esta semana em Barcelona, foi a virtualização de elementos de redes e aplicações e a inteligência de análise de dados aplicados aos serviços de telecom, a preocupação fica por conta do quanto essa tendência pode ser afetada pelas diferentes legislação de proteção de dados pessoais e neutralidade de rede.
Por exemplo: uma das propostas da Cisco no Mobile World Congress, uma das maiores fornecedoras de tecnologias de rede no mundo, foi a plataforma de "orquestração" que permite a diferentes aplicações de serviços controlarem diferentes elementos de rede das operadoras de telecomunicações. Em tese, essa plataforma permite que, individualmente, cada cliente, seja uma empresa ou pessoa física, defina que tipo de serviços quer ter, não só em relação à velocidade de acesso e funcionalidades, mas em relação à qualidade de serviço, nível de confiabilidade, proteção de dados etc. Em um modelo em que não pode haver diferenciação entre serviços, esse tipo de função seria proibida.
A mesma coisa em relação à questão da guarda e proteção de dados pessoais. As tecnologias permitem que diferentes desenvolvedores de aplicações se integrem à rede da operadora de telecomunicações em um nível muito mais profundo, não apenas trafegando em cima da rede de dados (OTT) mas também tendo acesso a informações da rede, como localização do usuário, qualidade de serviço contratada, tecnologias de conexão etc. Em um modelo em que a operadora de telecomunicações não possa coletar ou partilhar essas informações, ou em que haja restrição à guarda e ao tratamento dos dados dos usuários, esse tipo de modelo torna-se mais limitado, e com isso as ofertas de serviço por parte das teles ficarão restritas apenas à venda de uma conexão, o que elas não querem que aconteça, naturalmente.
