Diferentes empresas de medição dos serviços de telecom divulgam relatórios periódicos sobre a qualidade da banda larga fixa no Brasil. Os dados de velocidade aferidos por essas empresas e a diferença deles para o que a Anatel reporta pode gerar dúvidas.
De acordo com o Melhor Escolha, a melhor velocidade média de banda larga fixa em um estado brasileiro em 2024 foi de 189 Mbps. Já segundo a Speedtest, esse valor é de 185 Mbps. Para esse mesmo período, a Anatel divulgou um outro tipo de dado: a velocidade média contratada no Brasil, que fechou dezembro de 2024 em 440 Mbps.
A agência brasileira, inclusive, divulgou esta semana que tem como meta estratégica fazer com que a velocidade média contratada da banda larga fixa mantenha uma trajetória de crescimento, alcançando 1 Gbps em 2027 no Brasil.
Anatel vs. benchmark
Ao TELETIME, a Anatel explicou que a velocidade divulgada pela agência refere-se à média contratada pelo usuário no momento da adesão ao serviço de banda larga fixa (SCM) — ou seja, o valor nominal ofertado pela operadora.
"Assim, um usuário pode ter contratado um serviço com 200 Mbps de velocidade nominal (divulgada pela Anatel) e pode estar trafegando a 150 Mbps ou a 250 Mbps no momento da medição (divulgado pelas empresas de benchmark)", exemplificou a agência.
Já as empresas de benchmark costumam publicar a velocidade efetivamente medida na rede do consumidor durante os testes, que pode variar conforme fatores técnicos, de infraestrutura e de tecnologia dos próprios medidores.
Esse, inclusive, é o exemplo do Melhor Escolha. Gerente de marketing da ferramenta, Hadassa Rodrigues contou ao TELETIME sobre os dados divulgados pela empresa de medição em janeiro – que "refletem a velocidade média instantânea medida nos dispositivos dos usuários", com base em "milhões" de testes feitos pela plataforma da firma.
"Sendo assim, ao nosso olhar entendemos que são dados complementares. A Anatel mede a velocidade média dos planos no mercado, enquanto o Melhor Escolha mostra o desempenho real da conexão entregue ao consumidor", afirmou a executiva.
Diferenças
Ou seja: mesmo que a velocidade média contratada no Brasil seja de 440 Mbps, a experiência prática do usuário frequentemente fica abaixo desse patamar. Fatores como a distância entre o dispositivo e o roteador, congestionamento no espectro que suporta o Wi-Fi, roteadores antigos, barreiras físicas (como paredes e pisos) e interferências de outros equipamentos eletrônicos ajudam a explicar essa diferença.
"A tecnologia das redes, a tecnologia dos dispositivos dos usuários (celulares e computadores), o uso de redes Wi-Fi e o congestionamento das redes no momento do uso" também são apontados pela Anatel como pontos que afetam a experiência na banda larga fixa.
Veja o exemplo na imagem abaixo: ambos os dispositivos estão conectados a uma mesma rede Wi-Fi, cuja velocidade contratada é de 600 Mbps. Os testes foram realizados ao mesmo tempo, com o smartphone e o computador juntos em um cômodo diferente daquele em que se encontra o roteador.
É possível notar que a conexão via Wi-Fi sofreu degradação natural por conta de obstáculos físicos como paredes e móveis, bem como a distância. Além disso, as diferenças técnicas entre os dispositivos também afetaram o resultado da medição: o computador alcançou velocidades 45% superiores no download e 100% maior na taxa de upload.
"Uma das reclamações mais comuns que vemos no mercado, é a insatisfação do cliente com a velocidade recebida no seu dia a dia versus a contratada, especialmente ao usar o Wi-Fi. As operadoras têm se empenhado em buscar soluções para isso, e hoje já encontramos opções de planos com dispositivo Wi-Fi 6 e mesh adicionais, para que o cliente tenha uma experiência de conexão melhor em sua casa", contou Hadassa Rodrigues.
Acompanhamento
De acordo com a Anatel, o acompanhamento da evolução das velocidades contratadas e medidas fornece insumos importantes para a regulação do setor. Ao TELETIME, a agência afirmou que a partir dessas medições é possível, por exemplo:
- Verificar a necessidade de políticas públicas de incentivo ao aumento da velocidade em estados e municípios específicos;
- Verificar eventual discrepância entre as velocidades contratadas e efetivamente trafegadas;
- Observar a diferença entre os estados e municípios;
- E comparar o cenário da conectividade do Brasil com o restante do mundo.