Em uma primeira análise, ainda sem o resultado do leilão de 5G completo, pois faltam as faixas de 26 GHz que terão propostas abertas nesta sexta, 5, é possível dizer que o governo e a Anatel podem comemorar o resultado. O principal objetivo do leilão foi alcançado: colocar uma enorme quantidade de faixas de espectro no mercado e diversificar o cenário competitivo com novos players regionais. A entrada no mercado móvel de novas empresas é um fato muito positivo: Winity/Pátria com a faixa de 700 MHz nacional; Unifique/Copel com os 3,5 GHz no Sul, Sercomtel entrando em São Paulo e no Norte; Brisanet, que prometia agressividade, avançando no Nordeste e Centro Oeste; e a surpreendente Cloud2u (única empresa sem experiência em operação) levando o Sudeste (exceto SP) são os exemplos mais concretos de diversificação. Estas empresas venceram a primeira etapa, mas isso já aconteceu no passado com as sobras do 2,5 GHz. Agora a tarefa é muito mais complexa, de transformar uma outorga em uma operação economicamente sustentável. Algumas delas já contam com uma boa infraestrutura de rede de fibras, outras precisarão sair do zero. A estratégia dos novos players será o grande fato a ser acompanhado daqui em diante.
Alguns candidatos acabaram ficando de fora. Eram grupos que prometiam novos modelos, como Highline/DigitalBridge, a Datora e Iniciativa 5G (congregando 420 ISPs). Contra esses, o momento econômico e as opções limitadas de negócios podem ter sido um fator contrário. Algumas destas empresas podem voltar para a faixa de 26 GHz, e novos grupos prometem ainda entrar.
Grandes se firmam
Entre as grandes operadoras, é possível dizer que o resultado também é positivo porque os lances foram agressivos. A Claro foi, sem contar ainda as faixas de 26 GHz, a empresa que mais investiu para dar lances vencedores no leilão. TIM e Vivo ficaram alguns degraus atrás em termos de agressividade nos lances, o que se reflete em uma quantidade maior de espectro que a Claro acabou levando na faixa de 2,3 GHz, abocanhando os principais blocos de 50 MHz.
Ainda assim, todas as grandes operadoras têm o que comemorar, pois asseguraram 100 MHz de espectro na faixa de 3,5 GHz, considerada a mais relevante, e garantiram presença na faixa de 2,3 GHz, como era esperado. A Algar por pouco não fica sem os 2,3 GHz na sua própria área, mas conseguiu manter posição. Mas considerando que é uma empresa com uma estratégia de expansão nacional, pelo menos no mercado de B2B, havia a expectativa de que a Algar entrasse em algum lote regional de 3,5 GHz para além do seu território.
Um novo modelo
Mas o principal resultado do leilão foi o modelo. Pela primeira vez o governo, incluindo a sempre temida "área econômica", aceitou abrir mão de uma arrecadação substancial por compromissos de investimentos. São obrigações importantes, que terão um peso financeiro ainda muito pesado para as empresas e algumas são de complexa operacionalização, mas que se revertem em uma infraestrutura concreta de telecomunicações, o que é um fato que precisa ser muito comemorado. Também é um leilão importante porque mostrou a Anatel marcando posição firme junto ao TCU em relação às suas opções regulatórias. Quem acompanha esse cabo de guerra entre a agência e os órgãos de controle sabe o quão simbólico foi esse momento.
O timing econômico do leilão não foi bom. Se a licitação tivesse acontecido há alguns meses, segundo proponentes do leilão e analistas de mercado ouvidos por esse noticiário, o resultado poderia ser melhor, com mais grupos financeiros apoiando iniciativas regionais e até mesmo nacionais. Mas com a economia derretendo, muito investidor tirou o pé de última hora. Ainda assim, o governo Bolsonaro vai poder levar esse fato positivo para a campanha de 2022. E certamente a pressão do governo será para que o maior número de operações esteja em funcionamento até outubro do próximo ano.