Presidente da Algar espera mais crescimento no ano

Jean Carlos Borges, presidente da Algar Telecom

Em poucos dias, no próximo dia 9, a Algar Telecom deverá divulgar seu balanço financeiro referente ao terceiro trimestre com indicações de que, mais uma vez, mostrará crescimento no desempenho como aconteceu no segundo trimestre. Em entrevista exclusiva a este noticiário, o diretor presidente da operadora, Jean Carlos Borges, explicou como a empresa pretende continuar entregando esse resultado em pleno cenário de crise macroeconômica enquanto mudanças regulatórias aparecem no horizonte, trazendo promessas de uma possível retomada no setor.

Além disso, segundo Borges, para o futuro próximo, a companhia está planejando expandir a atuação para o mercado corporativo no Nordeste, com provável lançamento de operação em Fortaleza. No Sul, a empresa já realiza esse crescimento após a compra da Optitel, no final de 2015. E para o varejo, a Algar está lançando o LTE em 700 MHz ainda neste ano, enquanto planeja refarming em 1,8 GHz e avançar na oferta FTTH na região onde atua.

Como está a saúde financeira da Algar após ter entregue crescimento de dois dígitos no lucro líquido no segundo trimestre?

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Jean Carlos Borges – Continua boa. Vamos continuar entregando crescimento, comparado ano a ano, inclusive no lucro e principalmente a unidade de telecom, que tem sido toda a puxadora do crescimento, incluindo fixo, móvel, multimídia e a própria TV. Porque dentro de telecom (no reporte) consolidamos o braço de TI, a Algar Tech, que também tem crescido em receita, mas, devido à condição macroeconômica, tem sofrido pouco mais. Mas em termos percentuais (no geral), a Algar tem crescido mais que o setor em todas as dimensões. A gente contabiliza hoje, mas o crédito é de decisões acertadas em outros momentos. A questão de termos decidido expandir e focar em B2B para médias e pequenas empresas, e decidido expandir em regiões para oferecer não só produto e conectividade em fibra, mas nosso jeito de servir, nossa qualidade percebida.

Outra questão foi a decisão de iniciar em 2012 ou 2013 a jornada de transformação: à primeira vista, confesso que de olho na performance, mas acabamos conseguindo isso. Em junho, nossa margem EBTIDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) bateu 36%, 37%, que foi a melhor do mercado. Mas o negócio foi trabalhar processos, sistemas e estruturas que pudessem dar tratativa melhor ao cliente. Isso tudo percebemos que melhorava também a performance da empresa para o cliente e ao nosso associado, porque tiramos um monte de coisa que gerava esforço, mas não valor.

É comum em telecomunicações que as empresas tratem por silos, e a gente reconhece que nossa estrutura tem isso, mas estabelecemos esforços para reduzir esforço do cliente, com metas estabelecidas no roadmap em 2013, e fomos melhorando isso. Em um primeiro momento foi um pequeno passo, mas quatro anos atrás, a caminhada foi intensa. Expansão em regiões com presença local, com produtos, serviços e tecnologia, com profissionais técnicos e comerciais próprios na região, e vindo para dentro na transformação – que não foi somente para melhorar performance, mas para melhorar coisas no processo, atendimento, e redução do esforço do cliente – e nos permite colher bons frutos.

E a política de remuneração dos acionistas?

JCB – Foi minimamente adequada aqui e acolá. Ao entrarmos no processo de transformação, a gente potencializou os ganhos que já existiam, porque todo mundo começou a surfar em melhor qualidade, melhor atendimento. São drivers que alimentam nossas recompensas variáveis.

Como você vê o futuro diante do possível novo modelo?

JCB – Estou muito esperançoso. O governo e o presidente da agência (Juarez Quadros) reconhecem que, do jeito que está, na verdade desestimula o setor como um todo. O retorno de capital empregado é muito pequeno, em torno de 5%, e isso em termos de atratividade não atrai ninguém, ainda mais com investimentos de bilhões. Se não houver mudança neste sentido, para atualizar a legislação de quase duas décadas – e a tecnologia tem dessas coisas: ela arrasa com qualquer tipo de previsão muito bem feito -, o setor perderá a atratividade, deixará de ser interessante. Acho que o novo marco regulatório que está sendo conduzido pelo deputado Daniel Vilela (PMDB-GO), que tem uma atenção da Anatel e do Ministério, do próprio André (Borges, secretário de telecomunicações) e de Juarez Quadros. O ministro Gilberto Kassab mencionou também, eu vejo que tem linhas muito bem definidas. Questão de concessão, autorização, reduzir um pouco o ônus, coisa que não faz mais sentido, reduzir custos, (que levam a) jogar dinheiro fora. Minimamente repensar toda a questão fiscal, de metas e por conseguinte Pados e regiões onde já existe competição razoável. Tudo isso, é interessante, a reversibilidade dos bens. Isso tem que ser desembaraçado para dar ambiente e segurança jurídica para se arriscar no business, que é arriscado. Acho que se conseguirmos ter uma agenda mais rápida, o setor e o País vão poder ter momentos melhores porque os investimentos serão melhores, mais interessantes.

O planejamento da Algar considera isso?

JCB – Acho que o Brasil está ficando um pouco menos imprevisível no futuro, pelo menos é a agenda que o nosso governo está tentando fazer. Mas até que se tenha tudo muito bem definido, a gente leva o business corrente. Mas tenho espaço para propor revisão nos investimentos ou adequação no plano para o conselho de administração, junto a acionistas. Nesse ponto, acho que o Grupo Algar tem a vantagem de não sermos a maior empresa, mas somos muito mais ágeis, então conseguimos desdobrar em estratégia nova.

E também não precisam responder para controladores estrangeiros.

JCB – A gente responde muito, mas é aqui. Quando analisamos perspectivas de investimentos, tenho regiões que brigam pelo investimento. Então existe outras perspectivas, e a movimentação do capital para onde investir faz parte das discussões.

Como está o planejamento em infraestrutura?

JCB – Toda a parte nossa de expansão, não só backbone e rede para acesso, a construção é baseada em fibra há mais de cinco anos. Toda a nossa rede de expansão, pelo menos 99,9%, é baseada em fibra. Isso nos dá agilidade, flexibilidade, lançamento de produtos diferenciados que tem sido percebido pelo segmento B2B. E também, com a aquisição da Optitel no final do ano passado, tivemos a abertura de fronteiras. Ou seja: aquilo antes a rede ia até Curitiba, hoje posso ir até Uruguaiana (RS), e passando por mais 227 municípios dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, principalmente os dois últimos. Isso abre perspectiva de capilarizar algumas dessas cidades e rentabilizar e monetizar ainda mais o investimento. Também no segmento do B2B, através da construção do cabo submarino (Monet, em parceria com Google, Angola Cables e a uruguaia Antel), a previsão de chegada em Fortaleza já no ano que vem, entre final do primeiro semestre e início do segundo semestre, o que abre uma nova fronteira.

Também temos legado de cobre muito grande na região central. O que temos feito é analisar com geomarketing e georreferenciamento as áreas onde o cliente vai precisar de serviços com bandas muito mais significativas. Já estamos fazendo implantação com FTTH, todo nosso investimento de banda larga de alta velocidade estamos indo para a fibra, no GPON, porque a tecnologia, quanto mais utilizada, mais viável fica pela escala. Do ponto de vista de complemento da oferta nesta área (de concessão) onde já estamos há mais de 60 anos, estamos lançando a 4G. E o FTTS já é presente: são raros os sites que não têm fibra. No início deste ano finalizamos o projeto de levar para todas as regiões urbanas nossa a cobertura 3G em um acordo que fizemos com a Nokia. São 87 cidades e mais de 200 localidades com a parte urbana toda coberta com 3G. E 70% dessas localidades têm menos de 20 mil habitantes.

Também estamos entrando com questões de conteúdo, parcerias. Desde 2015, aquele programa de transformação que era convencional virou digital. Então tenho diretor no meu board totalmente voltado para puxar agenda digital dentro da organização. E definimos como principais pontos de partida a experiência do cliente e desempenho.

Como será o lançamento em Fortaleza?

JCB – A gente é mineiro, comemos mingau pelas beiradas. A forma de atendimento no Sudeste não será a mesma no Sul e Nordeste, tem que entender um pouco e conhecer a dinâmica dos locais. É um crescimento planejado, mas é passo a passo, não fazemos grandes arrancadas em colocação de rede. A visão do negócio hoje é orgânico. Pode ser acelerado se assim entender que deve, como fizemos no Sul. Não tem nada planejado nessa direção, mas pode ser que aconteça. Se identificarmos provedores com redes e operação já funcionando, pode ser que outras cidades sejam agregadas de maneira mais rápida. E isso faz parte da abordagem de produtos, serviços e atendimento diferenciados. A gente sempre tem minimamente dupla abordagem: o cabo é importante, mas é importante ter outra saída.

Por meio de swap de fibra…

JCB – Sim. Ou mesmo alguma aquisição que faça sentido. Acabei de mandar dois diretores para o Ceará para entender o que provedores estão fazendo, entregando GPON nas residências. Até para a gente quebrar nossos próprios paradigmas. Aqui, em São Paulo ou Rio de Janeiro, você não enxerga essas questões. As teles perdem market share não pela perda de base, mas porque os ISPs cresceram, então tem alguma coisa acontecendo aí.

O que acha da convergência entre acesso e conteúdo, como acontece nos Estados Unidos com a AT&T e Time Warner?

JCB – Como consumidor, acho mais conveniente, temos mais possibilidade de usufruir de produtos melhores, com mais benefícios até mesmo com preços menores. Me parece que a verticalização pode ser interessante. Claro que há questões de estratégia, que começa a ter riscos na prestação do serviço. Em 2011, o SeAC levou isso em consideração, já que tínhamos uma agência muito voltada para conteúdo, e outra de telecom. Do ponto de vista das empresas, o conteúdo às vezes é necessário, mas não é predominante. Essa relação da AT&T com a Warner não afeta muito. Quando olhamos o varejo, acho que é interessante e desejável ter mais condições de empacotar. Do ponto de vista de empresas, talvez não seja tão relevante. A estratégia da Algar está muito no segmento de empresas. Do ponto de vista de negócios, fazemos parcerias nesse sentido, se o marco regulatório evoluir nessa dimensão, coisa que, pelo que temos visto, não será bem assim.

Parcerias com OTTs?

JCB – Acho que é possível sim, respeitando o limite da neutralidade, porque essas coisas precisam ser melhor resolvidas no Marco Civil da Internet. Se não houver definição e razoabilidade, o setor como um todo fica em uma situação muito complexa, porque não estamos falando em características técnicas, estamos falando das similaridades, com tratativas diferentes, fiscal e reguladoras. Precisa evoluir melhor essas questões. Vejo claramente a parceria com OTTs não pela necessidade, mas pela conveniência. A gente anunciou recentemente parceria com o Facebook, o FaceFlex. O objetivo é alfabetizar, inserir o cliente que ainda não teve o acesso ao digital. É ideal para a gente, até para diminuir investimento em outras tecnologias. Não faz sentido hoje eu investir em cobertura 2G, não sei nem se faz sentido investir em aumento de cobertura em 3G mais, mas é de alguma maneira estimular o cliente a usar redes sociais para que eles se aculturem, tomem gosto pelo digital, e para ajudar a gente a canalizar os recursos para aquilo que ele verdadeiramente vai precisar e valorizar.

Há um movimento de empresas para limpar espectro de 2G com refarming. Há algum plano neste sentido?

JCB – Há sim. Quando fala de refarming para fazer o carrier aggregation para usar o espectro disponível para levar experiência para o cliente. A experiência será para o cliente em três dimensões. Uma é o espectro: quanto mais, maior velocidade para o cliente. Outra é a eficiência de utilização do espectro com novas tecnologias que utilizam 1 mega ou 1 gigahertz. E a terceira questão é a densidade das estações irradiantes. Nessa questão, nós temos hoje no Brasil um problema sério, por um lado a agência nos cobra para entrar em determinada cidade, e por outro lado ela não tem ainda como colocar. A Lei das Antenas não foi regulamentada, e vamos, vez ou outra, ter sustos de gente querendo desligar.

Como em Brasília.

JCB – Mas isso ganhou destaque porque foi em Brasília. Tem outros lugares também. E tem também caps de frequências que trazem limitação. Para fugir disso, usaremos o carrier aggregation para dar algo de espectro no 1.800 MHz, no 2.100 MHz e no 700 MHz, para dar um acesso mais rápido. Está sendo feito por toda a indústria e a gente não é diferente. Não posso falar muita coisa, mas tem coisa boa chegando em breve. Em curto ou médio prazo.

Mas a 4G que está sendo lançada em 700 MHz.

JCB – Aí entro na outra questão que é a liberação da frequência da radiodifusão. Mas temos percebido muita união do setor e na agência também trabalhando muito duro. Tive reunião com o ministro (Kassab), ele está bem a par da importância de 4G neste sentido. A experiência com 700 MHz em Rio Verde (GO, onde houve o primeiro desligamento da TV analógica) foi bem interessante: nos problemas de sinal indoor e cobertura muito restrita, o 700 MHz se mostrou interessante. Agora, tem as agendas para migrar e limpar o espectro. Aqui em Uberlândia ainda não (temos a possibilidade), mas tenho algumas cidades. Como o sinal de 700 MHz se propaga até 30 km, tenho cidades em Minas, por exemplo, Uberaba, que tem problema de sinal de Igarapava, que é do outro lado do rio, em São Paulo. Essas coisas a gente tem se esforçado para demonstrar o ganho para a população de maneira geral.

Vocês poderão usar ainda este ano?

JCB – O 700 MHz vamos usar em Ituiutaba, que entra ainda este ano. E tudo indica, Brasília tão falando de desligar agora. Corre risco de Ituiutaba entrar até antes. Estamos correndo para ser, depois de Rio Verde, que foi experimental, a primeira cidade comercial, operacional, entrando com 4G em 700 MHz. Terminais não são problemas, temos cerca de 20% na nossa base a possibilidade de usar essa faixa.

E a tendência de redução de preços de roaming?

JCB – A gente apoia demais isso. Como é uma rede wireless nossa é para uma região específica, a gente quer dar toda a mobilidade para o nosso cliente mundial. E não queremos que ele tenha susto da conta. No PGMU a dimensão do roaming foi muito feliz três anos atrás, e a gente tem condições de negociar pacotes. Esse volume tem crescido e temos condições de levar para teles um pacote razoável que é garantido para eles em termos de receitas. No final das contas, acho que é razoável. Hoje as teles são muito abertas a esse negócio de perceber que eu comprar no atacado e distribuir para meus clientes. É o razoável, é o que acontece em qualquer indústria.

Há iniciativas de compartilhamento?

JCB – Não conseguimos evoluir muito. O que existe hoje são mais sites, até pelo fato de nós, as teles, termos vendido as torres. Tem também em backhaul, mas ainda temos muito a fazer. A competição não está aí (na infraestrutura), está no atendimento e no serviço. Tentamos muitas vezes fazer RAN Sharing, mas pelo fato de estarmos restrito a uma região, houve por parte delas a intenção de fazer acordos mais amplos pelo País inteiro.

Mudando de assunto: você quer comprar a Sky?

JCB – (Risos) Esse negócio é para ser decidido. É uma excelente empresa, branding excelente. Mas produto de TV sozinho é complicado, ainda mais na questão do cabo, a fibra, consolidar tudo. Esse negócio precisa de solução.

* O jornalista viajou a Uberlândia (MG) a convite da Algar Telecom.

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