Entre operadoras, o consenso durante painel no Congresso e Feira ABTA 2015 nesta terça-feira, 4, é que os serviços over-the-top (OTTs) precisam receber alguma atenção regulatória, sobretudo tributária, com certa urgência. Mas, enquanto isso não acontece, uma forma de lidar com essa concorrência é a de oferecer suas próprias plataformas do tipo.
Na América Móvil Brasil, controladora da Claro, Embratel e Net, as OTTs fizeram acender a luz amarela "há algum tempo". O presidente da companhia, José Félix, não as enxerga como concorrência direta, mas como "players no segmento de conteúdo". Mesmo assim, ele diz que tentou se precaver com a criação da plataforma de VOD, o Now. "Decidimos trabalhar para blindar a empresa contra eventuais ataques. Diante das incertezas do futuro, é bom fazer hedge (lastro)."
Segundo Félix, o serviço conta com 40 bilhões de streamings desde sua criação, sendo 500 milhões por ano, com previsão de crescimento. O usuário assiste a 16 horas por mês na plataforma, o que representa cerca de 20% do total gasto com o serviço de TV por assinatura. São 30 mil opções de conteúdos disponíveis na plataforma e 1 bilhão de GB trafegados apenas nos últimos 12 meses. "Não oferecemos o Now como serviço de OTT, é mais como uma extensão da TV por assinatura, mas no futuro pode ser com o Now Online, porque tecnologicamente a plataforma está preparada para isso, posso entregar o conteúdo em tablets, smartphones e outras telas", declara. O executivo afirma ser "nem contra, e nem a favor das OTTs", mas se diz preocupado com a tributação ocorrendo de maneira diferente.
O grupo América Móvil, vale lembrar, também tem seu próprio OTT, o ClaroVideo, nascido no México como uma oferta complementar à banda larga, já que a operadora mexicana do grupo não tinha licença para operar televisão por assinatura. "Era um produto que estava feito e não tinha porque não usá-lo também no Brasil. E é complementar ao serviço de TV. Tem cliente da Net que paga R$ 19,90 pelo ClaroVideo e essas frentes fazem sentido do ponto de vista de posicionamento da companhia, uma capa de proteção para o futuro", explicou Félix mais cedo, em conversa com jornalistas.
Para o presidente da Telefônica, Amos Genish, o assunto é problemático para todos os setores.
Em geral, ele acredita que os serviços OTT como Netflix não chegam a tirar assinantes da TV paga, mas diz que é preciso investir em serviços não lineares e em soluções over-the-top próprias. "Precisamos reagir como a Net faz com o Now, e a Vivo tem o Vivo Play", lembra, pedindo aos programadores por mais flexibilidade para poder ofertar conteúdo não linear "para ter uma resposta boa ao Netflix". Ele prometeu novidades nesse sentido para 2016.
Realidade complementar
Na visão do presidente da Oi, Bayard Gontijo, as operadoras precisam conviver com essa realidade. Especificamente para a TV por assinatura, ele considera que as OTTs são uma "realidade complementar, ainda conseguem caminhar conjuntamente, mas isso mudará". Assim como os concorrentes, o executivo acredita que, para endereçar isso, a sugestão é se adequar ao novo comportamento do cliente, que quer assistir a conteúdo cada vez mais não linear e em diferentes dispositivos.
Gontijo reclama que o setor é muito regulado, e que é difícil uma equação fechar com rentabilidade, advogando em favor de uma eventual consolidação de mercado. Mas ele acredita que as over-the-top, em algum momento, também precisarão achar um denominador comum, porque "em algum momento as teles vão impactar" esses novos players.