Surgem rumores de disputa pela GVT entre Telefónica e Telecom Italia

A disputa entre espanhóis e italianos agora pode ganhar novo palco: a GVT. De acordo com notícia publicada pelo jornal italiano La Repubblica citando "fontes confiáveis", a Telefónica teria pedido a grandes bancos internacionais que preparem uma oferta da sua subsidiária brasileira pela GVT, hoje controlada pelo conglomerado francês Vivendi. O movimento da Telefónica seria, na verdade, uma reação à tentativa da Telecom Italia de fundir sua subsidiária TIM Brasil com a GVT, proposta que teria como apoiadores os bancos italianos Mediobanca e Intesa Sanpaolo (os mesmos que eram sócios da Telefónica na Telco, maior acionista da Telecom Italia).

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Se confirmada a informação, ela pode indicar uma mudança na estratégia da Telefónica: em vez de tentar incentivar a compra da TIM Brasil por fundos de investimentos ou mesmo com as especulações sobre eventual compra pela Oi para posterior divisão da tele entre os demais players do mercado (Vivo, Claro e Oi), a Telefónica estaria tentando agora barrar uma eventual fusão entre GVT e TIM Brasil, o que criaria um competidor de peso com serviços e redes convergentes.

De acordo com o jornal italiano, o CEO da Telefónica, Cesar Alierta, teria tentado dissuadir os acionistas da Telecom Italia de fazer a oferta pela GVT, mas sem sucesso. Assim, após alguns contatos com Vivendi, Alierta teria pedido uma contraproposta pela GVT a esses "grandes bancos".

Derrota

Não seria a primeira vez que a Telefónica demonstra interesse pela GVT. Em 2009 a espanhola disputou a compra da operadora brasileira com a francesa Vivendi, e perdeu. Em setembro de 2009, a Vivendi anunciou um acordo com os então controladores holandeses da GVT para comprar 51% das ações de controle da empresa por cerca de 2 bilhões de euros (R$ 5,4 bilhões à época). A Telefonica tentou atravessar o acordo, porque aparentemente não havia uma conversa prévia com os controladores, oferecendo primeiro R$ 6,5 bilhões e depois aumentando para R$ 6,8 bilhões a proposta pela GVT. O esforço foi em vão: no final, a Vivendi aumentou a oferta para cerca de R$ 7,2 bilhões e levou a GVT, em um episódio polêmico que gerou inclusive questionamentos à CVM sobre a transparência das decisões dos então controladores da GVT.

Enfrentando problemas financeiros, em 2013 a Vivendi colocou a GVT à venda. O preço: no mínimo 7 bilhões de euros. Segundo informações de mercado, a DirecTV teria chegado a apresentar uma proposta de 6 bilhões de euros (cerca de R$ 15 bilhões) e fundos de investimentos liderados pela KKR teria oferecido 5 bilhões de euros (perto de R$ 13 bilhões). Ambas as propostas foram consideradas insuficientes pela Vivendi e, depois que a DirecTV formalizou sua saída da mesa de negociação, a francesa decidiu suspender a venda da GVT.

Esse histórico é importante porque mesmo quando estava no pior de sua situação financeira a Vivendi decidiu não vender a GVT por menos do que considerava "justo" – algo entre 7 e 8 bilhões de euros. Agora, depois que a Vivendi já se desfez de todos os demais negócios e telecom (vendeu a Maroc Telecom e a sua operação domestica SFR), além de ter embolsado também o dinheiro da Activision Blizzard (divisão de jogos de videogame), o provável é que o valor mínimo que queira pela GVT tenha aumentado, já que a operadora se expandiu regionalmente e ganhou market share. E mais, uma eventual disputa entre Telecom Italia e Telefónica pela GVT servirá para valorizar ainda mais a subsidiária da Vivendi.

Concorrência

Do ponto de vista da concorrência, a compra da GVT tanto pela Telefónica quanto pela Telecom Italia, por meio de suas respectivas subsidiárias brasileiras, não deve enfrentar dificuldades de aprovação pelos órgãos reguladores brasileiros. Como a GVT não possui uma licença de telefonia móvel, não há problemas de cap de espectro ou de eliminação de um concorrente no mercado. No caso das redes fixas, as da Telefónica se concentram no Estado de São Paulo, onde a espanhola ganhou a concessão, e embora a GVT tenha avançado um pouco no Estado, sua área de abrangência ainda é limitada, especialmente na capital paulista.

Aqui cabe também mencionar que quando a Telefónica fez a oferta pela GVT em 2009, solicitou a anuência prévia da Anatel, que por sua vez deu sinal verde, embora com condicionantes. Na época, a condicionante era que as duas empresas, Telefônica e GVT, permanecessem com estruturas administrativa, operacional, funcional e comercial separadas por cinco anos – e até mesmo a marca da GVT deveria ser mantida por este prazo.

No caso de uma aquisição pela TIM, a aprovação regulatória deve ser ainda mais simples.

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