Com a construção de sua rede 5G ocorrendo "a todo vapor", a Brisanet pretende utilizar o 4G para atrair base de clientes para a nova tecnologia e garantir a rentabilização na fase inicial do projeto móvel.
A estratégia foi abordada pelo CEO e fundador da operadora cearense, José Roberto Nogueira, durante o TELETIME Tec, realizado em São Paulo nesta segunda-feira, 4. Com início previsto até o fim do ano, o piloto 5G da Brisanet em 2,3 GHz vai envolver também a divisão do espectro para ativação do 4G, explicou o executivo.
"Vamos subir 4G e 5G, com parte do espectro para LTE. Se não fizéssemos assim, seria investimento e custo cada vez maior e sem receita", afirmou Nogueira, apontando o ecossistema ainda pequeno de aparelhos prontos para se conectarem ao 5G. No fim do ano passado, a empresa já tinha 400 ERBs 4G.
"Não dá pra colocar [o serviço] no ar com menos de 30% dos terminais falando com sua rede. Hoje, o mercado tem próximo de 50% dos celulares que já conversam com 2,3 GHz em 4G. Temos que abordar esses 50%, e assim que eles forem comprando novos terminais, [migrar para] ter a experiência melhor do 5G", prosseguiu o CEO da Brisanet.
O planejamento tem como norte um retorno dos investimentos na tecnologia em quatro a cinco anos, apontou o executivo, que prevê para 2023 um capex 5G ainda maior que o deste ano (lembrando que a Brisanet optou por comprar os equipamentos para a rede 5G pagando praticamente à vista para a Huawei cerca de R$ 230 milhões). No âmbito comercial, a empresa espera vender o 5G como serviço móvel e como substituto da banda larga fixa para consumidores que ainda não têm acesso aos serviços fixos, especialmente nas classes D e E.
Core e apoio público
No momento, a Brisanet projeta ativar dois núcleos (core) para redes de quinta geração dentro de algumas semanas, o que já abriria espaço para as primeiras estações 5G em 2,3 GHz serem ligadas (a empresa tem a Huawei como primeira fornecedora). Como já apontado por TELETIME, os primeiros pilotos da empresa envolvem uma grande cidade nordestina e um aglomerado de municípios no interior.
O espectro livre na faixa de 2,3 GHz tem dado inclusive "tranquilidade" para a empresa em relação ao 3,5 GHz, considerado o espectro carro-chefe do 5G e cuja liberação fora das capitais ocorrerá em prazos mais dilatados. Mais uma vez, o desenvolvimento no Brasil do ecossistema de aparelhos funcionando na faixa também é necessário para uso da faixa.
Em caso de aventada antecipação das metas, Nogueira acredita que a medida deveria ser acompanhada de incentivos, como a redução das obrigações visto a necessidade de "amadurecimento" da tecnologia. "Uma outra dica seria ter recursos do Fust, não a fundo perdido, mas com taxas subsidiadas de longo prazo para as regionais", reiterou o CEO da Brisanet.
Regras de roaming agradam
Segundo Nogueira, os trabalhos da operadora cearense para iniciar a operação 5G estão a todo vapor. Além do core e dos cerca de 200 mini data centers que a empresa tem preparados, todas as torres que suportarão o serviço de quinta geração já contariam com cobertura redundante de fibra óptica a 100 metros dos sites.
Já na esfera regulatória, a aprovação pela Anatel de ofertas referência para contratação de roaming junto às grandes operadoras foi considerada um "ótimo trabalho" por Nogueira. Pelas regras, a operadora poderá contratar 1 giga de dados móveis por R$ 2,20 no atacado, habilitando cobertura para os primeiros clientes de telefonia celular da empresa que estiverem em trânsito em outras cidades.