Conselho de Comunicação mostra preocupação com IA do Google

Em nota divulgada nesta segunda-feira, 3, o Conselho de Comunicação Social (CCS) do Congresso Nacional manifestou preocupações com os potenciais riscos advindos das recentes alterações anunciadas por pelas big techs em seus designs e modelos de negócios a partir da adoção de sistemas de inteligência artificial (IA) generativa.

O CCS diz que no último mês de maio, um anúncio do Google acendeu um sinal de alerta. "Concentrando mais de 90% das pesquisas online mundiais, o conglomerado anunciou que alterará a forma como apresenta resultados de seus sistemas de busca. Agora, a partir da adoção de algoritmos de IA, a primeira parte da resposta geraria resumos com uma resposta geral para a demanda feita por qualquer usuário", explica o CCS, sobre o anúncio do Google.

A mudança feita pelo buscador altera de forma profunda a interface atual do serviço ofertado pelo buscador, que foi baseado na forma como a organização da informação sempre foi oferecida na web valendo-se da indexação de links que direcionavam ao conteúdo buscado.

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"Foi esta arquitetura que garantiu a disseminação de conteúdos de comunicação social, culturais e científicos na Internet, socializando o conhecimento, ampliando o livre fluxo de informações e assegurando a liberdade de imprensa e de expressão também no mundo online, desenvolvendo novos negócios e ampliando a memória da humanidade", aponta o CCS.

Ainda segundo o órgão, a nova forma de apresentar os resultados das buscas já está sendo implementada nos Estados Unidos e deve chegar aos demais países até o final deste ano, substituindo a tradicional lista de links por visões gerais por algoritmos de IA, sem direcionamento para fontes primárias ou checagem da qualidade da informação.

"Entre seus diversos efeitos, a alteração no modelo de negócios do Google afetará diretamente os serviços jornalísticos, que terão reduzida a visibilidade de seus conteúdos editoriais na Internet, repercutindo também na forma de financiamento dos sistemas de mídia, baseado na venda de publicidade e de assinaturas", critica o CCS.

Regulação

O colegiado diz que há vários meses está empenhado na ampliação do debate público sobre o tema, especialmente porque tramita no Congresso Nacional uma proposição de um marco legal para IA de autoria do senador Rodrigo Pacheco.

Marco legal de IA será votado dia 12 de junho no Senado

O CCS destaca que a discussão sobre IA generativa é permeada pela velocidade das mudanças em curso e de seus impactos sobre a produção e circulação de conteúdos de comunicação social, da publicidade e da liberdade de expressão na Internet.

"Assim, manifesta-se pela necessidade de os legisladores e reguladores brasileiros, bem como organismos internacionais de governança global, acelerarem a elaboração de medidas que ajudem a mitigar danos e prevenir riscos oriundos da introdução da inteligência artificial generativa nos mercados digitais mundiais", diz o Conselho, na nota.

Mudanças no campo social

Outra crítica que o CCS faz ao novo modelo de busca do Google envolve o campo social. Segundo o colegiado, essa nova forma que usa IA generativa trará a diminuição da visibilidade e o silenciamento da ação, da reflexão e do trabalho de movimentos sociais, instituições científicas, organizações não-governamentais e até mesmo de partidos políticos.

"Ou seja, uma das maiores conquistas da humanidade no campo da democratização da comunicação será substituída por uma tecnologia e um modelo de negócios sem qualquer preocupação com processos sociais, registros de memória ou políticas públicas emancipadoras", aponta o CCS.

O CCS diz ainda que a medida, se adotada por outras plataformas, afeta de sobremaneira como cidadãs e cidadãos usufruem seu direito de acesso à informação. "Alterações de design, como a mencionada, exemplificam a importância de serem desenvolvidas regulações holísticas de plataformas digitais, pensando desde mudanças nos seus modelos de negócios, a como priorizam as informações passadas e à maneira em que utilizam a inteligência artificial", diz o CCS.

Mediante essas preocupações, o CCS reitera que é importante a preservação dos fundamentos que moldaram a web ao longo das últimas três décadas diante da mudança no modelo de negócios da empresa que possui o virtual monopólio mundial no mercado de buscas.

E estende também a preocupação com a proteção da esfera pública digital frente a outras estratégias de negócio de controladores de sistema de IA generativa dominantes que tenham a intenção de reduzir ou silenciar a diversidade de conteúdos informativos originais circulando na web.

"Preservar uma Internet livre e aberta exige proteger não apenas os valores democráticos e os direitos individuais, mas o próprio sentido não artificial do que nos faz humanos: a comunicação social e a interação pessoal", finaliza o CCS na sua nota.

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