Igor de Freitas: expansão de redes é direcionada pelo tráfego das big techs

Foto: Marcelo Kahn

Um dos autores de estudo da Conexis sobre um possível modelo de contribuição das big techs nos investimentos de telecom (o chamado fair share), o ex-conselheiro da Anatel e atual diretor da Alvarez & Marsal Infra (A&M Infra), Igor de Freitas, vê a expansão de redes no Brasil sendo guiada pela demanda gerada pelas grandes plataformas.

Nesta terça-feira, 4, o consultor detalhou a abordagem apresentada à Anatel que sugere uma cobrança para empresas de Internet definidas como grandes usuárias de rede – no caso, responsáveis por mais de 5% do tráfego. Na proposta da Conexis (que representa as maiores teles do País), tais companhias deveriam ser obrigadas a negociar uma compensação junto às operadoras de telecom, sob supervisão da Anatel.

"Há três ou quatro grandes big techs que ocupam entre metade e dois terços das redes fixas e móveis, sem que isso tenha impacto na alocação do investimento. Na medida que a Internet evolui, essa demanda determina o investimento e vai moldando como a rede é construída", afirmou Freitas – indicando que nas redes móveis, um mesmo conglomerado de aplicações responderia por metade do tráfego.

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"No Brasil, [o investimento] está sendo basicamente direcionado por essa enorme e crescente concentração gerada por poucas empresas", completou o consultor, durante entrevista coletiva para portais especializados de telecom.

O paradigma já foi apontado pelas próprias teles, para quem uma necessidade de investimentos em incremento de capacidade nos grandes centros atuaria como rival da expansão da cobertura em novas geografias.

Mesmo operadoras de infraestrutura passiva apontam dinâmica similar, a julgar por matéria de TELETIME publicada nesta terça-feira: na ocasião, a Abrintel alertou que novos investimentos em redes móveis nos últimos têm priorizado a instalação de rádios em torres existentes, ao invés da chegada da infraestrutura em novas localidades.

Neste sentido, vale lembrar que o governo federal já sinalizou preferir uma contribuição das big techs a fundos públicos de universalização de Internet do que um pagamento às teles. Para Igor de Freitas, contudo, a medida seria uma má escolha.

"Isso não atacaria a raiz do problema: as OTTs seriam oneradas, esse dinheiro provavelmente não seria aplicado e a situação do investimento das operadoras não seria em nada afetada, já que [o pagamento] não se transformaria em infraestrutura. Me parece o pior caminho a seguir", afirmou.

Retorno

Como sustentado pelas teles, a dinâmica de investimentos diante da demanda crescente do tráfego estaria pressionando há anos o retorno financeiro da cadeia.

Segundo Freitas, no Brasil o setor seria compelido a reinvestir cerca de 50% da geração de caixa livre anual (enquanto outros mercados teriam o mesmo indicador na casa dos 25-30%). O resultado seria um retorno sobre o capital investido (ROIC) médio de 7%, ou cerca de metade do custo de capital real, segundo o consultor.

Neste sentido, Freitas também apontou como pouco factível uma futura acomodação no ritmo de crescimento do tráfego. "É pouco provável uma estabilização de tráfego quando estamos no início da era da inteligência artificial e da realidade virtual. A transformação digital está só começando".

Regulação

Freitas também rechaçou a necessidade de qualquer alteração legal que amplie atribuições da Anatel, para que a mesma exerça uma definição de grandes usuários de redes e obrigações para os mesmos. Há questionamentos se a reguladora tem tal competência. 

Mas como exemplo da possibilidade, o consultor da A&M Infra cita a abordagem da agência para grandes ofensores de telemarketing – e que parte da mesma visão sobre o escopo da Anatel incluir agentes que façam uso inadequado das redes de telecom.

Neutralidade

Outrora taxada como impeditivo para as teles negociarem com as big techs, a neutralidade de rede também foi trazida à mesa na conversa de Freitas com jornalistas. Na consulta pública da Anatel, as teles afirmaram que o conceito tem sido deturpado, ao invés de pedirem sua derrubada.

"O objetivo [da neutralidade] era evitar exatamente o que acabou acontecendo: a concentração de tráfego e de poder econômico. Eu diria que o Marco Civil foi no mínimo ineficaz para o problema que ela queria evitar. Então a preocupação com a rede neutra deve envolver essas empresas que transformam a Internet em não neutra", argumentou Igor de Freitas, nesta terça.

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