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Transformação digital na distribuição de TV no Brasil

Carlos Fini, consultor especializado no segmento de mídia e comunicação. Foto: Divulgação

Uma importante atualização tecnológica vem aos poucos se materializando no cenário de distribuição de TV no Brasil e alcançando toda a população, independentemente de classe social, localização e dispositivos disponíveis. Essa mudança, que é provocada tanto por demanda competitiva quanto por questões de regulamentação, tem como objetivo reorganizar o espectro para a utilização da tecnologia celular 5G, além de impactar e criar oportunidades de melhores serviços de entrega de sinal de TV, especialmente pelo ar. Recentemente, um importante edital que movimentará os ocupantes da faixa de satélite conhecida como banda C permitirá a modernização de cerca de 20 milhões de antenas parabólicas.

A TV brasileira é reconhecida no mundo todo pela qualidade técnica e de conteúdo, contando inclusive com características legais de gratuidade e de acesso universal, consolidando-se como canal para audiência massificada e “ao vivo”. Contamos com uma evolução continuada em algumas direções: a transmissão pelo ar analógica até então, que desde 2007 vem sendo digitalizada e recebendo novos recursos como qualidade HD (resolução 1920 x 1080), áudio multicanal, acessibilidade e interatividade, atualmente atinge praticamente 90% do território nacional.

Segundo o recente edital do leilão do 5G, as empresas que tivessem lances vencedores nas frequências teriam, como contrapartida, que arcar com os custos de transição para famílias de baixa renda que forem dependentes dos serviços atuais para captar sinais. O atual edital se espelhou em experiência recente, o edital do 4G, em que parte remanescente dos recursos captados desse leilão estão sendo empregados para instalar equipamentos de transmissão para digitalização das emissoras de televisão e para distribuir gratuitamente o chamado “kit de conversão” para a TV Digital a mais de 1,6 mil municípios até então não atendidos. Tem sido uma implementação de referência mundial: uma fantástica e harmoniosa interação construída pelo Ministério das Comunicações e a Anatel entre o setor de telecomunicações e o setor de radiodifusão, o Programa Digitaliza Brasil.

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Também fruto de uma integração de sucesso e desta vez sob gestão do FSBTVD (Fórum Brasileiro de TV Digital), composto por radiodifusores, fabricantes, universidades, Ministério das Comunicações e Anatel, está se projetando o próximo passo conhecido por TV 3.0, com previsão de início gradativo para daqui a alguns anos e com adoção de muita tecnologia. O destaque vai para a integração com banda larga, qualidade 4K/HDR/áudio imersivo pelo ar, personalização de conteúdo, comercialização e uma camada de aplicativos. Tudo isso acompanhando as tendências e hábitos de consumo atuais, ou seja, uma plataforma digital com capacidade de utilizar também a antena, oferecendo assim o melhor dos atuais modelos de consumo de mídia.

Streaming, OTTs e plataformas digitais

A crescente e rápida evolução das plataformas digitais e distribuição de conteúdo segue em função de três fatores: mudanças de hábito, disponibilidade de tecnologia e a oferta brutal de mídia facilitada por recursos de produção barateados vertiginosamente, oportunizando caminhos para ofertas personalizadas. Adicionalmente, plataformas digitais de abrangência mundial se oferecem como caminho para escoar todo esse conteúdo com modelo de monetização próprio.

Esses fatores todos resultam num rearranjo do ecossistema, dando surgimento a modelos novos, como as várias OTTs (serviços de mídia que fazem distribuição de conteúdos pela Internet) que assumem papéis de agregadores de conteúdo live streaming ou on-demand, negócios DTC (direct to consumers), além de formação de vMVPDs (aplicativos virtuais que fazem o mesmo tipo de distribuição que a TV paga) se apresentando como alternativa – seja com pacotes de canais, seja com conteúdo agregado para nichos.

As redes de TV brasileiras, seguindo exemplo das americanas e europeias, também iniciam sua operação nessas novas modelagens de maneira própria ou com parcerias, oferecendo seu conteúdo já conhecido da audiência adequado aos novos hábitos do espectador via live streaming ou on-demand e com comercialização diferenciada – essa iniciativa digital certamente se integrará ao novo padrão da TV 3.0.

Distribuição via satélite (eficiente e com qualidade)

O recente edital do 5G, decisivo para o futuro das parabólicas, tem por objetivo manter a continuidade das transmissões de forma livre, gratuita e segura de possíveis interferências na faixa pela implantação do 5G na faixa de 3,5 GHz. A necessidade de uma decisão que garanta continuidade da operação com eficiência em todos os sentidos representa para o usuário final muito mais que uma nova contratação de um segmento satelital. 

Importante lembrar que é necessária uma solução que atenda o território nacional, incorpore com mais qualidade as ofertas atuais e novos conteúdos, assim como permita a criação de mais clusters regionais, além de garantir que os direitos assim negociados tenham restrições para países vizinhos onde não podem ser exibidos. Obviamente de acordo com normas vigentes e se alinhando inclusive com outros países que tenham a distribuição via satélite regular e sem exposição a pirataria.

Essa modernização promovida pelo edital garante que um meio de informação e entretenimento gratuito continue operando num elevado padrão de qualidade, atendendo espectadores das regiões mais distantes.  Existem, então, vantagens na escolha por empresas que já operam nesse segmento (DTH – direct to home), têm conhecimento das operações de campo e concorrem nesse processo.

Velocidade e eficiência nas TVROs  

A implementação de antenas de recepção que serão da ordem de 20 milhões, sendo parte significativa delas custeada com recursos públicos oriundos do leilão, é parte relevante do processo. As regras do edital têm sido conduzidas de maneira correta, permitindo que até o momento se vislumbre competição saudável, oferecendo muitas opções de decisão aos radiodifusores – os detentores dos conteúdos que serão transmitidos a milhões de domicílios brasileiros.

Isso é positivo para todos, uma vez que promove redução de custos tanto para as geradoras de conteúdo quanto para as operadoras de telecomunicações vencedoras do certame do 5G pois elas é que custearão os “kits de recepção” para os brasileiros usuários atuais das parabólicas que estejam inscritos nos programas de benefício social do governo. Decidir pela eficiência e pelo conhecimento de campo e evitar improdutivas combinações, tecnicamente complexas e economicamente onerosas, darão celeridade ao processo, atendendo ao cronograma das operadoras de celular.

Considerando a capacidade atual e o crescimento que pode ser antecipadamente dimensionado, o conceito de robustez não está somente associado ao segmento espacial, que raramente apresenta panes pela natureza construtiva e custo de manutenção após lançado o satélite, mas também às margens de sensibilidade (boa capacidade de receber os sinais) das milhões de antenas de recepção que, por concepção, devem ser simples e baratas. Todas as análises apontam para serem adotados sistemas de satélites visando economia de escala, com TVROs (estações de recepção de satélite) equipadas de LNBs (dispositivos existentes nas antenas parabólicas para recepção dos sinais) simples e eficientes para torná-los baratos e acessíveis, assim como adotar uma implementação baseada na adoção de solução já disponível no mercado, com antenas e LNBs otimizados ao máximo como os que hoje são utilizados pelas operadoras de DTH, pode economizar meses no cronograma, além de elevar a robustez na entrega do sinal.

* Sobre o autor: Consultor com carreira no segmento de mídia e comunicação e vivência nas principais inovações tecnológicas e transformações empresariais das últimas décadas. Atuou na TV Globo e afiliadas, participou da implantação da TV Digital no Brasil e atuou como Diretor de Tecnologia do Grupo RBS. Atualmente, tem participação ativa no setor como membro do Conselho Diretor da SET (Presidente do CD), Conselho do FSBTVD (Fórum Brasileiro de TV Digital), Membro do IBC Council e sócio proprietário da CF Tecnologia e Assessoria  LTDA. As opiniões expressas neste artigo não necessariamente refletem o ponto de vista de TELETIME.

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