Entre os meses de dezembro e janeiro, consultorias e especialistas apontam as tendências tecnológicas dos principais mercados internacionais. E de fato, é importante conhecer cada uma delas, mas fazer análises preditivas no Brasil é muito mais difícil do que nos países desenvolvidos, ainda mais quando algumas das consequências geradas pela pandemia ainda vão impactar os setores produtivos em 2022, como o desalinhamento das cadeias logísticas, que têm gerado uma alta na inflação em diversos países e a escassez de chips, que aliado à elevação do dólar, afeta o custo de diversos hardwares e serviços no setor de tecnologia.
Mesmo assim, a expectativa é que a digitalização das atividades de transformação e de serviços continue no Brasil e segundo pesquisa da ebdi (Enterprise Business Development & Information) o investimento das empresas brasileiras em TI deve aumentar entre 15% e 80% este ano, em relação ao realizado em 2021.
Mas antes de investir é necessário avaliar como a implementação de uma tendência tecnológica pode solucionar os problemas. Nem sempre a novidade é a melhor escolha para o negócio, ainda mais se etapas anteriores não foram feitas da forma correta. Ao analisar a adoção de uma tecnologia é recomendável focar em como ela pode ajudar a solucionar os problemas que a empresa enfrenta.
Cito alguns exemplos de desafios que devem pressionar o setor produtivo em 2022 e como as tendências tecnológicas podem ajudar.
Pressão dos custos operacionais
A hiperautomação pode ajudar a reduzir os custos e aumentar a lucratividade de uma empresa, seja por diminuir o número de hora homem dedicada a uma atividade repetitiva, que pode ser automatizada, melhorando a eficiência dos processos internos, ou por meio do cognitive augmentation, que de forma simples, pode ser definida como a capacidade da tecnologia aumentar a capacidade intelectual do ser humano, auxiliando-o, por exemplo, em tomadas de decisão.
A estratégia de hiperautomação está intimamente ligada ao processo de transformação digital de uma empresa e deve ser tratado como uma iniciativa corporativa a fim de alinhar os processos fim-a-fim – evitando diversas iniciativas departamentais que, apesar de produzir ganhos, nem sempre conseguem maximizar os benefícios de uma estratégia que envolve toda a companhia – e consolidar o conjunto de ferramentas utilizada para as automações.
Já por meio do cognitive augmentation é possível dar suporte aos colaboradores fornecendo informações de forma organizada, que ajudam na tomada de decisão, avisando o funcionário de que um problema pode acontecer e fornecendo sugestões para a resolução deste problema. Com ajuda da inteligência artificial (AI), é possível definir qual profissional deve ser enviado a campo para uma eventual manutenção, avaliando os custos, tempo de atendimento da chamada ou equilibrando esses dois critérios.
Para que esses processos sejam realizados com eficiência, a governança de dados precisa ocorrer. Os dados precisam ser consistentes, refletir o que está acontecendo e disponíveis em um único lugar, de forma a evitar falhas como a duplicação de informações. No início pode parecer um processo que apenas gera custos, sem retorno imediato, mas essa organização é fundamental para ações que irão gerar retorno operacional e financeiro. Alguns projetos de business intelligence (BI) e inteligência artificial (IA) falham porque não foi feita essa orquestração de dados. Lembre-se: análises e predições em cima de dados incorretos não geram informações consistentes e dessa forma, não servem para nada.
Falta de mão-de-obra qualificada
A concorrência pelos profissionais de tecnologia continuará nos próximos anos. A falta da mão-de-obra qualificada e o sucesso na implementação do trabalho remoto fez com que a disputa por um bom profissional expandisse as fronteiras geográficas. Os bons profissionais são disputados por empresas até em outros países e aí novamente a defasagem cambial pressiona as empresas brasileiras.
A boa implementação da hiperautomação também deve avaliar os benefícios que a redução da jornada hora-homem em atividades repetitivas pode gerar, já que este profissional poderá ser treinado e se dedicar a atividades que demandam mais análise e de maior valor agregado. Mas isso não deve ser o suficiente para solucionar o problema. As ferramentas de no-code/low-code devem ser adotadas para amenizar a falta de mão-de-obra especializada.
Essas ferramentas possibilitam que profissionais, que tenham pensamento lógico, mas sem expertise no desenvolvimento de softwares, possam programar um sistema usando pouca codificação. Dessa forma é possível acelerar processos que eram freados por falta de profissionais qualificados. Essas ferramentas devem ter maior uso em sistemas mais simples, que não demandam algoritmos complexos ou integração com aplicações legadas.
Aumento de infraestrutura tecnológica
As plataformas nativas da nuvem são uma realidade, pois elas são mais flexíveis e permitem aumentar a escala de forma rápida, mas é preciso saber o que deve ser alocado na nuvem e o que deve estar em uma infraestrutura própria para não aumentar o custo de forma desnecessária.
Para auxiliar os gestores da área financeira e de tecnologia a tomar uma decisão, o conselho é: sistemas que precisam de elasticidade para aumentar e diminuir a capacidade computacional devem fazer isso utilizando infraestrutura na nuvem, pois esses eventos são, na maioria da vezes, temporários e neste caso não vale a pena o custo de investimento em hardware próprio que será utilizado apenas em casos de grande demanda. As grandes empresas que possuem informações extremamente sigilosas e/ou uma nuvem privada, com as mesmas funcionalidades das grandes plataformas de computação em nuvem, via de regra tem um custo benefício melhor em uma nuvem privada. É claro que toda regra tem exceções e em casos mais complexos, um estudo mais detalhado pode ser necessário.
Foco nas pessoas
Além das questões financeiras, o uso da tecnologia só faz sentido se ela melhora a vida das pessoas, seja o colaborador interno, o funcionário terceirizado ou o consumidor final. Se a tecnologia não beneficiar nenhum desses públicos sua implementação irá falhar, pois, não haverá apoio interno ou retorno financeiro.
O customer experience (CX) evoluiu no Brasil e as empresas já iniciaram a implantação de ferramentas, que proporcionam o atendimento omnichannel, melhorando a experiência do cliente antes, durante e após a venda. Mas, é necessário olhar para o total experience (TX) e desenvolver a experiência do funcionário, dos colaboradores terceirizados, dos parceiros de negócios, seja por meio da hiperautomação, de plataformas que melhorem a interação das pessoas com a tecnologia e da adoção de plataformas e aplicações na nuvem, que possibilitam a adoção do trabalho remoto, com melhor qualidade e eficiência.
* Sobre o autor – Gilson Missawa é Head of Marketing & Offerings da Icaro Tech. As opiniões do autor não necessariamente refletem o ponto de vista de TELETIME.