O último dia do Congresso Latinoamericano de Satélites encerrado nesta quinta-feira, 3, no Rio de Janeiro, foi marcado por mensagens dos líderes das principais operadoras do setor no mercado brasileiro.
A transformação tecnológica e de recursos humanos na indústria, a exigência por inovação, os movimentos de parcerias e consolidação e a percepção que há espaço para diversos players no mercado satelital foram alguns dos destaques, indicaram executivos presentes no evento promovido pela Glasberg Comunicações e TELETME.
Para o diretor executivo da Embratel, Gustavo Silbert, o mercado de satélites está vivendo um momento tão pujante como na década de 60, época em que a indústria espacial alcançou a Lua. "Talvez seja um momento ainda mais disruptivo e inovador e há muitas caras novas na indústria, que está rejuvenescendo".
Especialmente no Brasil, o cenário visto pela Embratel é de competição "forte e saudável". A operadora – tradicional no segmento geoestacionário (GEO), com frota de cinco satélites – também valorizou o momento como propício para parcerias, seja com novas competidoras de baixa órbita ou mesmo com redes terrestres.
VP de vendas para América Latina da SES, Fábio Alencar foi outro que vê aspectos positivos no momento vivido pela indústria. "Os satélites estão de volta às manchetes, o que tem sido muito positivo para o mercado e importante para entrada de novos players – não só os bilionários", indicou o executivo.
Alencar reconheceu que há importantes desafios na indústria – como o dilema da verticalização -, o que amplia a necessidade por inovação no segmento. Outra questão mandatória é seguir construindo e lançando satélites, algo no que a SES vem trabalhando (em novembro, a empresa lança dois novos satélites da frota O3b mPower). Parcerias com outros players rumo a um cenário "multi-órbita" também foram destacados por Alencar.
VP comercial das Américas da Intelsat, Ricardo La Guardia destacou o momento de transformação imensa da indústria como gerador de muitas oportunidades. "Estamos no meio do furacão e todos estão se reinventando".
La Guardia também destacou a necessidade de serviços híbridos, indo além do conceito multi-órbita e chegando também na infraestrutura de redes terrestres – chamada por ele de "quarta órbita". "Isso é muito importante pois é onde a infraestrutura se integra com o 5G NTN. Isso tem sido muito importante para o consumidor final".
No caso da SES e da Intelsat, há ainda o fator consolidação, visto que as empresas estão combinando negócios. O fechamento da compra da segunda pela primeira depende de aprovações regulatórias, o que deve ocorrer até o segundo semestre de 2025.
LEO
Como não seria diferente, o efeito dos serviços satelitais de baixa órbita (LEO) também foram destacados. "Muitas ondas tecnologias vêm e morrem, como o mercado de vídeo 3D, que durou dois anos. Já o LEO é realidade", indicou Rodrigo Campos, diretor geral da Eutelsat OneWeb Brasil.
A empresa (um dos dois players LEO ativos no mundo, ao lado da Starlink) também é resultado de uma combinação de negócios, finalizada no ano passado. Campos destaca que a operação permitiu a habilitação das ofertas multi-órbita, com foco no mercado corporativo, como os segmentos de mobilidade ou marítimo. "Há espaço para todo mundo", observou o executivo da Eutelsat.
Outra operadora "tradicional" que tem investido em LEO é a Telesat, que completou recentemente financiamento para sua constelação de baixa órbita Lightspeed, notou Mauro Wajnberg, diretor geral da empresa do Brasil.
Um dos aspectos da iniciativa foi o crescimento de 20% no número de colaboradores da Telesat em meio ao projeto. Por outro lado, Wajnberg destacou que o GEO segue vivo e que satélites com o perfil seguem com bastante vida útil pela frente. "Estamos trabalhando no presente, mas com um pé no futuro".
Brasil
Já Clóvis Baptista, chairman da Hispasat Brasil, destacou que o grande foco da empresa no Brasil é dar vida ao memorando de entendimento firmado entre a empresa, o governo brasileiro e o espanhol para o lançamento de um novo satélite compartilhável.
"Nossa prioridade é colaborar com o governo brasileiro para diminuir a exclusão digital e temos dedicado grande parte da nossa energia para colocar isso em prática", afirmou Baptista. Outros líderes da indústria de satélites também destacaram desejo de estabelecer ou ampliar parcerias com o governo brasileiro e a Telebras.
Em paralelo, a Hispasat foi outra a se descrever como uma empresa que fornece soluções, ao invés de apenas conectividade. Também destacou a necessidade de investimento contínuo em P&D. "Na Europa, estamos em fase avançada de desenvolvimento de tecnologia que usa GEO para distribuir chaves quânticas por satélite".