Abert não acredita em leilão da faixa de 700 MHz em maio de 2014

Enquanto a Anatel e o Ministério das Comunicações batem o pé e afirmam que o leilão da faixa de 700 MHz sairá, sim, entre abril e maio de 2014, a Associação Brasileira de Emissores de Rádio e Televisão (Abert) não se mostra tão otimista. Durante a Conferência Latino-americana de Espectro 2013 em São Paulo nesta terça, 3, o diretor de planejamento e uso de espectro da entidade, Paulo Ricardo Balduíno, ressaltou as incertezas e indefinições sobre o problema de interferência na faixa. "Acho que no tempo que eles estão anunciando, será difícil acontecer", declara. Na avaliação dele, ainda há pontos técnicos a serem estabelecidos e que vão influenciar a publicação do edital.

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Balduíno explica que há fatores a serem resolvidos, como valores, parâmetros (ponto de limitação de potência, emissão indesejada etc.) e premissas que são "fundamentais que sejam estabelecidas após serem conhecidas a realidade da interferência". Segundo o representante da Abert, esses detalhes vão influenciar em ter uma largura maior ou menor para a banda de guarda.

Balduíno ressalta que o setor de radiodifusão está realizando estudos desde a semana passada com a Universidade Mackenzie, enquanto as empresas de telecomunicações recrutaram o CPqD para suas análises, que deverão considerar questões técnicas como nível de potência, emissões, largura de banda desejada etc. Os encontros técnicos entre os setores deverão se repetir, para que cada um veja e avalie os resultados obtidos de maneira agnóstica.

E essas reuniões já encontraram resultados semelhantes. Um deles é a unanimidade sobre a necessidade de usar filtros que seriam instalados em estações radiobase (ERBs) e em receptores de TV para contornar a interferência. Mesmo assim, ainda é preciso definir detalhadamente o ponto. "Tem que especificar qual é o filtro, se será desenvolvido aqui, qual será o custo. Isso tudo tem que estar resolvido antes do regulamento de uso da faixa", detalha, argumentando que o edital de 700 MHz pode ser complexo. "Nosso cronograma é que, no final de outubro ou início de novembro, teremos resultados finais de diagnóstico; depois então tem trabalho de resolver soluções adequadas", diz. A definição de quem pagará essa conta, na visão da Abert, já está definida: os novos entrantes, ou seja, o setor de telecom.

Debate acalorado

Ao ser apresentado a um estudo de caso em Campinas e São Paulo realizado pela consultoria ATDI, a pedido da GSMA (associação de operadoras), Paulo Balduíno se disse "apreensivo" e chamou a pesquisa de "visão bem simplista". O levantamento afirma que, na pior das hipóteses, 10% da área de serviço na capital paulista teria consequências, e que a possibilidade de interferência do padrão digital de TV (ISDB-T) no LTE é um "risco maior". "Colocar filtros reduz a possibilidade de interferência. Além disso, não é necessário colocar filtros em todas as ERBs", explica o consultor da ATDI, Paul Grant. O diretor da Abert se opõe ao conceito, justificando que a complexidade da situação brasileira desafia modelos puramente teóricos. Ele compara a cobertura do Japão com a de São Paulo. "São duas realidades, e mostram incidência de interferência não apenas nos canais vizinhos", detalha. "Apenas para configurar todos os cenários de recepção, a Mackenzie demorou três semanas para atender a todas as especificações. Fico apreensivo de estar sendo introduzido ruído e tenho dificuldades em lidar com essa situação teórica", declarou. Ele reclamou ainda que o levantamento tenha sido feito sem a consultoria do setor de radiodifusão.

A diretora de engenharia de transmissão e apoio às afiliadas da TV Globo e participante do Fórum Brasileiro de TV Digital, Liliana Nakonechnyj, concorda que o cenário brasileiro é diferente. "Tem que ver se tem busca nas antenas internas e as características dos receptores vendidos no Brasil. Porque assim vemos uma indicação muito diferente do campo, e vamos ter que mitigar essa situação", declarou ela. No estudo de caso do Japão, que usa padrão semelhante ao brasileiro, o investimento estimado para a mitigação sairá por US$ 3 bilhões. "Sabemos que tem solução, mas estamos falando em custo", define.

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