Após seis horas de interrogatório, o diretor financeiro da Kroll, Eduardo de Freitas Gomide, saiu às pressas do edifício onde fica a 5ª Vara Criminal da Justiça Federal de São Paulo por volta das 20h10 desta quarta-feira, 3, sem falar com a imprensa. A advogada do diretor, Joyce Royseen, também preferiu não se pronunciar sobre o depoimento, negou que o réu tivesse feito quaisquer denúncias que auxiliassem às investigações e se limitou a dizer que o acusado só se pronunciará sobre o assunto após a conclusão do processo. Gomide é um dos principais acusados do caso Kroll, um episódio envolvendo espionagens encomendadas pelo grupo Opportunity contra seus desafetos. O que se sabe é que Brasil Telecom (BrT ) contratou a empresa de investigação, inicialmente sob o pretexto de levantar dados sobre a Telecom Italia, mas que na prática serviu para espionar de empresários a integrantes do governo e jornalistas.
A advogada Maria Elisabeth Queijo, assistente da acusação que representa o empresário Luiz Roberto Demarco e o jornalista Paulo Henrique Amorim, alvos da espionagem da Kroll, relatou que o interrogatório correu dentro da normalidade. Segundo ela, Gomide negou todas as acusações e não admitiu qualquer participação eventual em fato de interesse do processo. ?Da parte dos acusados, como são pessoas bem instruídas e muito bem defendidas, não se esperava, naturalmente, que produzissem provas contra si mesmas?, disse Maria Elisabeth. A assistente da acusação revelou ainda que o diretor financeiro não relatou nenhum conhecimento específico sobre os contratos da Kroll com a BrT. ?Ele admitiu somente que a BrT era cliente da Kroll, como já fato público noticiado pela mídia, e disse não saber dar nenhum detalhe do contrato, exceto que se referia a essa disputa das empresas de telecomunicações (no caso, com a Telecom Italia).?
De acordo com informações de uma ação que a Brasil Telecom moveu contra a Kroll em Nova York com a finalidade de obter os relatórios, contratos, correspondências e as informações levantadas pela empresa e que desapareceram dos registros da operadora quando o Opportunity foi afastado da gestão, em setembro de 2005, a Kroll recebeu mais de US$ 10 milhões entre 2001 e março de 2005 em pagamento pelo contrato de investigação firmado. Segundo apurou este noticiário, este valor pode ser maior porque não inclui advogados.
Andamento
Embora em seu depoimento Gomide tenha negado todas as acusações, a advogada Maria Elisabeth Queijo lembra que os interrogatórios são apenas uma parte da instrução do processo. ?O juiz ainda ouvirá as testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa e, quando for conceder a sentença, levará em conta tudo o que está nos autos, as provas apreendidas pela Polícia Federal e as perícias realizadas?, esclarece.
O interrogatório do diretor financeiro da Kroll foi apenas o primeiro de uma série de 33 que ocorrerão durante o mês de maio na 5ª Vara Criminal Federal sobre o caso Kroll, já que o interrogatório do principal nome do Opportunity, Daniel Dantas, que aconteceria na terça-feira foi suspenso por força de um Hábeas Corpus e remarcado para o próximo dia 30. Ainda não há uma nova data para o depoimento da ex-presidente da BrT, Carla Cico, suspenso pelo mesmo recurso que cancelou o de Dantas.
Nesta quinta, 4, depõe Vander Aloísio Giordano, diretor de inteligência da Kroll.