Enquanto o mercado e a sociedade são transformados pelos impactos da crise da pandemia de coronavírus no mundo, a promessa do 5G promover outro tipo de mudança continua em foco, com pesquisa e desenvolvimento incentivadas por fornecedores. A aposta da Ericsson é justamente em promover isso em parceria com instituições acadêmicas, seguindo uma estratégia que já vem sendo adotada há anos e que já garantiu o registro de patentes e contribuição para padronização da tecnologia. A ideia é que a conectividade já é fundamental no contexto atual, e assim continuará após a crise.
"O que eu imagino é que todos nós vamos sair diferentes da situação, mas ficará o legado de aprendizado forçado. Algumas pessoas foram forçadas ao uso mais intenso do benefício da banda larga, mas não vão renunciar isso para voltar ao [padrão de consumo] que era antes. Vai ter 'cascateamento', e isso favorece a aceleração das atividades de P&D para dar vazão ao desejo da sociedade", analisa o diretor de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Ericsson, Edvaldo Santos.
Isso terá repercussão na fase de mudança tecnológica. Santos compara com o impacto do 4G, citando a transformação do modo como se consome música (mesmo a digital, sem a necessidade de armazenamento nos dispositivos, que agora podem fazer streaming do áudio de forma mais confiável). "No caso do 5G, não vai ser diferente. Vão surgir tantas inovações que o perfil de consumo vai mudar radicalmente, terá novos modelos de negócios. Eu acho que a situação que a gente está vivendo acelera o processo", opina, citando a aceleração já sentida em frentes como o ensino a distância.
Brasil em destaque
Atualmente, o braço brasileiro da companhia trabalha em posição de comandar uma equipe mundial na P&D do conceito de redes com automatização de processos, batizado de zero touch networks (também conhecido como as self-organized networks – SON). "Isso mostra a relevância do centro da Ericsson, e é crédito do Brasil. Em se tratando de redes 5G, o País não é mero consumidor de alta tecnologia desenvolvida no exterior – a gente participa do nascimento dessas redes", declara.
A Ericsson ainda trabalha com pesquisas em educação, como o uso de realidade aumentada e 5G para melhorar o aprendizado. O mesmo conceito, diz, pode ser usado também para telemedicina, aplicável em áreas remotas do País. A companhia fez recentemente uma demonstração de um exame de ultrassom a distância utilizando a rede de quinta geração em parceria com a TIM.
"Enaltecer o valor do brasileiro nessas cadeias globais de inovação e geração de valor serve até para incentivar outras empresas. A gente concorre muito bem globalmente", avalia Santos. Para ele, é necessário também desmistificar determinados tópicos como a inteligência artificial no País. "A gente está falando de técnicas de programação e conhecimento estatístico e matemático. São coisas que as universidades brasileiras têm preparado. Temos barreiras de entradas, mas nesse segmento são muito baixas, e isso cria oportunidade para o Brasil participar ainda mais ativamente nessa cadeia de valor e riqueza."
Parcerias
A Ericsson tem como forte componente da pesquisa e desenvolvimento a parceria com instituições. Uma delas é no conceito de melhora de eficiência espectral com múltiplas entradas e saídas massivas (MIMO, na sigla em inglês), tecnologia que já era utilizada no 3G e mesmo em frequências não licenciadas, mas que é fundamental para o 5G. A parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC) trabalha em frequências mais altas, as ondas milimétricas (mmWave).
A companhia também trabalha em projetos de P&D com universidades federais do Pará e de Pernambuco, além da USP, da Unicamp, da Inatel de Santa Rita do Sapucaí (MG) e da federal de Campina Grande (PB). Com a UFPA, há comando de drones com uso de inteligência artificial para segmentos como agronegócio ou mineração. Já com a UFPE, a fornecedora desenvolve prova de conceito de robôs autônomos – isto é, sem conexões de cabos prendendo e limitando a movimentação. "Você libera o robô de todo o cabeamento, e ele passa a ser um companheiro na linha de produção, deslocando-se para buscar materiais no almoxarifado ou atuando na montagem de equipamentos eletrônicos, reduzindo a falha humana", explica Edvaldo Santos.
No Brasil, a fornecedora também trabalha na tecnologia de apoio a novos modelos de negócio com a quinta geração, com a medição mais exata de consumo de serviços. A ideia é levar inteligência artificial para as próximas plataformas de charging e billing para melhorar a precisão das faturas. "A complexidade da rede subirá exponencialmente, então é necessário um sistema que coleta as informações para ter a conta com fidelidade nas informações", explica. O trabalho com IA é com base em padrões de consumo de recursos de rede. Dessa forma, consegue indicar média ou alta probabilidade de falha também, o que traz eficiência da rede. "Dá para fazer uso de dezenas ou centenas de tarifações individuais", conclui Santos.