A sessão de abertura do MWC 2025, principal evento de telecomunicações do mundo, que acontece esta semana em Barcelona, repetiu as mensagens que têm sido enfatizadas em suas últimas edições, sem pontos de avanço significativo no discurso das operadoras de telecomunicações.
Ao contrário, pautas contundentes dos últimos anos, como sustentabilidade da rede, participação nos investimentos por parte das empresas de Internet (fair share) e assimetrias competitivas apareceram apenas nas entrelinhas.
Com um tom mais preocupado com o futuro da indústria do que o normal, Marc Mutra, chairman e CEO da Telefónica deu o tom da abertura com uma analogia entre o declínio do império romano e o que parece ser o futuro do setor caso não haja mudança nos rumos do mercado.
"Há 25 anos as empresas de telecomunicações europeias eram líderes nas mudanças tecnológicas e mudamos o mundo a partir dos dispositivos móveis. Muita coisa aconteceu desde então. Estamos em outro momento em que gigantes tecnológicas atuam de maneira quase monopolista e podem investir grandes quantidades de capital e mergulhar em inovações com knowhow contraintuitivo. Estas empresas estão baseadas nos EUA e na China", disse o presidente da Telefónica.
"Aqui no MWC vamos anunciar inovações, mas nada disse é suficiente. Para chegarmos mais longe precisamos estar atentos à necessidade de resolver a fragmentação da regulação tecnológica na Europa; olhar para os retornos da indústria; e não ficarmos para trás em novas tecnologias. Isso não tem acontecido em outras geografias como Estados Unidos, Oriente Médio e Ásia. Nossas empresas precisam ter a capacidade de se consolidarem para se fortalecerem", disse.
Em conclusão, ele profetizou: "calamidades não são evitáveis, mas decadência é. O tempo não espera ninguém, nem a tecnologia", disse.
De mercado "brutal" a novas oportunidades
Matts Granryd, diretor geral da GSMA, também qualificou o mercado de telecomunicações como "brutal" pelas necessidades de investimentos e dimensão. "Somos a maior infraestrutura do mundo, conectando 6 bilhões de pessoas em todo o mundo. Mas o que vem agora? Como crescer?"
Ele pontuou cinco preocupações da associação: completar a transição do 5G, buscar novas fontes de receitas; desenvolver oportunidades com o Open Gateway; e conseguir se planejar para mais espectro.
A linha de receitas não está crescendo e isso vai representar um grande desafio. "Isso é claramente não sustentável. Ou vamos ter que diminuir o investimento, ou buscar novas oportunidades e receitas" .
Para o Open Gateway, ele projeta que existem US$ 300 bilhões em oportunidades a serem capturadas com o projeto de aplicações nas redes de telecom até 2030.
Já no mercado de IA, Granryd vez cerca de US$ 100 bilhões. "A corrida está apenas começando" .
Para ele, o maior erro que pode acontecer é se não houver espectro, ou se ele for colocado à venda com sobrepreço. Ele ainda destacou que a evolução das tecnologias móveis demandam dos reguladores o planejamento para que o espectro licenciado tenha cada vez mais largura de banda. Hoje, essa necessidade já está beirando os 400 MHz, pontuou Granryd.