A Starlink, empresa de conectividade via satélite do magnata Elon Musk, apoiador de primeira hora de Donald Trump e hoje parte do governo, sofreu os efeitos colaterais da guerra de tarifas comerciais iniciada pelo presidente Norte Americano: em resposta à taxação de 20% a produtos canadenses pelos Estados Unidos, o governador da província de Ontário (Canadá), Doug Ford, disse na manhã desta segunda-feira, 3, que poderá romper o contrato de US$ 68 milhões com a Starlink.
Ottawa e Washington, contudo, chegaram a um acordo há pouco para interromper a guerra comercial pelo prazo de 30 dias.
A parceria da província com a companhia de satélites de Elon Musk foi fechada em novembro, no âmbito do programa Ontário Satellite Internet (ONSAT), e visa fornecer o acesso à Internet de alta velocidade via satélite para 15 mil residências e empresas que não possuem ou contam com o serviço de forma limitada. Entre essas áreas, estão comunidades rurais, remotas e o do Norte da província. A iniciativa entraria em vigor em junho de 2025.
Starting today and until U.S. tariffs are removed, Ontario is banning American companies from provincial contracts.
Every year, the Ontario government and its agencies spend $30 billion on procurement, alongside our $200 billion plan to build Ontario. U.S.-based businesses will…
— Doug Ford (@fordnation) February 3, 2025
O governo Trump, contudo, resolveu suspender por 30 dias a taxação de produtos canadenses, após fazer o mesmo sobre as mercadorias oriundas do México. Depois do telefonema entre Trump e Trudeau e o comunicado de Washington, Ottawa também suspendeu a taxação pelo mesmo período.
A resposta
"Estamos indo ainda mais longe. Vamos romper o contrato da província com a Starlink. Ontário não fará negócios com pessoas determinadas a destruir nossa economia", ameaçou Ford, antes da suspensão. "O Canadá não começou essa disputa com os Estados Unidos, mas pode ter certeza de que estamos prontos para vencê-la."
No entanto, a tendência agora é que Ford volte atrás, ao menos até que os países cheguem a uma resolução em definitivo.
Vale lembrar que o ONSAT integra a iniciativa de quase 4 bilhões de dólares (US$ 2,74 bilhões) para levar Internet de alta velocidade a todas as comunidades da província até 2025, sendo o maior aporte deste tipo na história de qualquer província canadense, segundo o governo local.
Atualmente, Ontario é a província mais populosa do País e a segunda em termos de extensão territorial. Vivem lá cerca de 15,9 milhões de pessoas, o que equivale à 40% dos residentes no Canadá.
Entenda o caso
Desde que se sagrou vencedor nas eleições de novembro, Donald Trump tem feito uma série de acusações contra Canadá, México e China, argumentando que eles facilitam a entrada de drogas e imigrantes ilegais em território americano, o que é prontamente refutado por esses países.
Assim, os EUA decidiram impor tarifas de 25% sobre produtos do Canadá, além de 10% para itens provenientes da China e do México. No caso dos canadenses, a taxação para o fornecimento de energia ficou limitada a 10%.
"Administrações anteriores falharam em usar plenamente a posição econômica privilegiada dos EUA como ferramenta para proteger nossas fronteiras contra a imigração ilegal e combater a epidemia de fentanil, permitindo que os problemas se agravassem", disse a Casa Branca, em comunicado à imprensa também no sábado, 1.
Para responder às medidas adotadas pela Casa Branca, o primeiro ministro do Canadá, Justin Trudeau, chegou a anunciar no último sábado, 1º, a imposição de tarifas de 25% sobre uma ampla gama de produtos provenientes dos EUA, em um volume de 30 bilhões de dólares canadenses (em torno de US$ 20,6 bilhões).
A lista inclui produtos como suco de laranja, pasta de amendoim, vinho, destilados, cerveja, café, eletrodomésticos, vestuário, calçados, motocicletas, cosméticos e celulose e papel.
O governo canadense também confirmou a intenção de impor mais tarifas, em uma lista adicional de bens importados dos Estados Unidos que alcançaria 125 bilhões de dólares (US$ 85,8 bilhões). Nessa lista, constam veículos de passageiros e caminhões, incluindo veículos elétricos, produtos de aço e alumínio, determinadas frutas e vegetais, produtos aeroespaciais, carne bovina, suína e laticínios, caminhões e ônibus, veículos recreativos e embarcações recreativas.
"Sempre faremos o que for necessário para defender os canadenses e proteger nossos interesses. Estamos respondendo com um conjunto de medidas firmes, porém adequadas. E continuaremos presentes para defender o Canadá, os canadenses e o nosso futuro", afirmou Trudeau, em coletiva de imprensa no sábado.
Ele ainda lembrou a longa relação entre o Canadá e os EUA, com o auxílio canadense no combate à incêndios na Califórnia e o fornecimento equipamentos e ajuda durante os atentados de setembro de 2001.