Após dois anos de sua chegada, a Viasat está avaliando as possibilidades do mercado brasileiro, estudando novos modelos de negócio, incluindo uma estratégia de novas parcerias além das que já tem com a Telebras e com a Sky. Para capitanear tudo isso, a companhia contratou Leandro Gaunszer em janeiro para assumir como diretor geral no Brasil. Com passagem pela Telefônica/Vivo, o executivo terá como missão expandir os fluxos de receita da operadora satelital.
Isso terá maior chance com a chegada do ViaSat-3, satélite que deve dobrar a capacidade atual por meio do contrato com a Telebras para uso da capacidade comercial em banda Ka do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação (SGDC). O novo artefato continua com previsão de lançamento em 2021.
Dessa forma, há a possibilidade de fornecer mais capacidade para o mercado B2B e B2B2C. Na visão da empresa, há oportunidade para backhaul, independente se na ponta o provedor ou operadora estiver utilizando 5G ou WiFi 6E, por exemplo. "É um mercado que está dentro dos meus objetivos, vamos abrir novas linhas de negócios com segmentos que temos e fazer alianças estratégicas", declarou Gaunszer, citando a própria Telebras e a recente parceria com a Sky.
"Acho que temos espaço para chegar [com backhaul]. Ainda não temos definido com qual empresa vai ser, e se será WiFi 6E, ou as localidades regionais que podem ser alternativa. Somos agnósticos em tecnologia – hoje é predominantemente satélite, mas não precisa ser, vamos buscar o que for preciso", disse.
Assim, ele não considera que a chegada do 5G seja uma "ameaça", já que a Viasat efetuou análises de mercado e considerou que "tem espaço para todo mundo". Nas contas da empresa, dos 15 milhões de residências sem conexão no país, o público endereçável para a operadora é de 2,4 milhões de lares.
WiFi Comunitário
A Viasat ainda continua apostando no modelo de WiFi comunitário no Brasil, mas está estudando alternativas. A companhia tem encontrado desafios nos testes já lançados, e por isso estuda uma reformulação.
Em implantação inicial no interior de São Paulo desde 2019, o serviço está agora com nova fase de testes no Ceará "com modelos diferentes, seja solução técnica ou comercial". Mas o executivo considera que não há uma mudança de estratégia. "Vamos continuar testando até acharmos modelo ideal para poder escalar e atender a população."
Gaunszer coloca que o mercado brasileiro é muito competitivo e "criativo" nessa concorrência. "A Viasat imaginava que, quando chegasse em localidades pequenas, de 150 casas, seria 'greenfield'. Mas sim, a gente encontra concorrência – não é formal, de operadora ou player registrado na Anatel, mas é um player que está lá e dá o serviço para a comunidade, que não está preocupada se é credenciado ou não."
Demanda
A companhia observou uma grande demanda de clientes na região Norte, justamente a que mais sofre com carência de infraestrutura de telecomunicações, e no Centro-Oeste. No entendimento de Leandro Gaunszer, nas outras regiões há também uma concorrência com a Hughes, apesar de considerar que há mercado suficiente.
"São locais que a gente tem que pensar de forma diferente. Meu conhecimento e experiência são em mercados bem competitivos, tanto na Vivo como conhecendo a América Latina em si", destaca. Para ele, diferenças regionais ajudam a ter "ofertas mais customizadas" como estratégia. O executivo destaca ainda o avanço de ISPs, sobretudo na região Nordeste, citando como exemplo a Brisanet, que considera uma "grande empresa de telco estruturada".
Percalços
A operadora norte-americana chegou ao Brasil enfrentando uma sorte de situações peculiares desde o início, com questionamentos ao contrato de compartilhamento de receita com a Telebras para o SGDC, em 2018. Em 2020, quando preparava o lançamento da operação da banda larga residencial, precisou segurar por meses o plano por causa da pandemia da covid-19. Atualmente, contando com pontos de acesso do Gesac e da parceria com a Ruralweb, além da base residencial, a Viasat tem 20 mil estações operando no Brasil.