América Latina precisa de autonomia para monitorar detritos espaciais

Foto: Rudy Trindade/Themapress

O Brasil e a América Latina precisam investir em medidas para maior autonomia no monitoramento de detritos espaciais, na medida em que o número de objetos na órbita terrestre cresce exponencialmente, impulsionado pelas constelações de baixa órbita.

A avaliação foi realizada por representantes de empresas do setor e pela Anatel nesta quarta-feira, 2, durante o segundo dia do Congresso Latinoamericano de Satélites. O evento realizado pela Glasberg Comunicações em parceria com a TELETIME está ocorrendo no Rio de Janeiro.

Gerente de dinâmica orbital da Embratel e diretora da Space Data Association (SDA), Erika Rosseto destacou na ocasião o contexto atual de ocupação no espaço. Segundo dados apresentados pela profissional, há atualmente mais de 29 mil objetos catalogados em órbita.

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Destes, cerca de 23 mil estão na órbita baixa (LEO) – sendo 9 mil deles artefatos ativos e cerca de 6 mil, de propriedade da Starlink. Há ainda 1 mil objetos (ativos ou não) catalogados na órbita média (MEO) e 1,7 mil, na geoestacionária (GEO).

"A ESA [Agência Espacial Europeia] estima que em 200 anos o uso do espaço estaria inviável por estar muito poluído", alertou a especialista. Além de impactos ambientais e concorrenciais, mesmo a observação do céu por astrônomos corre riscos diante do cenário.

Segundo Rosseto, os segmentos LEO e MEO representam os maiores desafios. O primeiro, por conta do grande número de artefatos e novos ingressantes no mercado de satélites. Já na média órbita, há desafio pelas poucas opções de "cemitério" para artefatos e pela própria barreira física representada pelas frotas LEO.

Governos, contudo, estão agindo no tema: os Estados Unidos possuem rede consolidada para monitoramento espacial, responsável por produzir dados dos quais muitos países dependem. A Europa tem buscado sua própria autonomia, com previsão de grande missão para lidar com detritos a partir de 2026. A China também tem planejamento e quer autonomia na sustentabilidade especial dentro de até dez anos.

Já a América Latina não tem nenhum sistema de vigilância espacial nem iniciativas robustas para busca dessa autonomia, lamentou a especialista da Embratel e da SDA. Ela conclamou que o tema entre de vez na agenda da região.

Maior país latino-americano, o Brasil tem se movimentado. Especialista em regulação da Anatel, Kim Mota destacou que a agência de telecomunicações está em conversas com a Agência Espacial Brasileira (AEB) para um acordo de cooperação técnica voltado às atividades. Uma das preocupações é respeitar a competência legal de cada órgão no tema.

Ainda assim, Mota aponta que a Anatel tem dever de manter outros sistemas livres de interferências e de prezar pela concorrência no segmento satelital, mesmo que a gestão de debris não seja responsabilidade direta da reguladora. De forma geral, a profissional avalia como ideal uma atuação multiórgãos e, idealmente, transfronteiriça.

Diretora jurídica, regulatória e de compliance da Viasat Brasil, Cláudia Domingues também abordou o tema e lamentou que processos e mecanismos utilizados hoje pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) não sejam suficientes diante da complexidade da questão. Por conta disso, é necessário a firmeza das administrações locais, afirma.

"A Anatel já deu um passo à frente quando estabeleceu consultas públicas para análise de grandes constelações", afirmou a executiva da Viasat. Para Domingues, manter um ambiente saudável para as operações de satélites é não apenas uma questão concorrencial, mas também de soberania.

Negócios

O cenário atual da ocupação espacial também deve propiciar oportunidades de negócios, indicou Fred Boratto, diretor de produtos da Saipher.

A empresa brasileira – estratégica em defesa e sediada em São José dos Campos (SP) – avalia que o mercado global de Consciência Situacional no Ambiente Espacial (SSA, na sigla em inglês) represente cerca de US$ 1,7 bilhão, com 11% do potencial vinculado à América Latina.

"Vários países realizam a SSA de forma privada e a Saipher está instalando telescópio autônomo em Brasília para essa prestação destes serviços", indicou Boratto. "Se o número de satélites operacionais em alguns anos vai ser o dobro do atual, precisamos imaginar como vai ficar o espaço".

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