A Vivo comprou a Telpart, controladora da Telemig Celular e da Amazônia Celular, por R$ 1,2 bilhão. E o fato mais incrível da operação de venda é que o grupo Opportunity sairá com um ganho expressivo do negócio. Aliás, deve sair, individualmente, com mais do que os acionistas controladores Citibank e fundos de pensão. A conta é simples: a Telpart tem dois acionistas: a Newtel (onde estão fundos e Citibank), com 51%, e a TPSA (onde está o Opportunity e o Citibank), com 49%. Quem está vendendo é a Telpart, e está acertado que ela distribuirá o valor da venda a seus acionistas.
Isso significa que a TPSA receberá quase R$ 600 milhões na operação, ou aproximadamente US$ 315 milhões, na cotação desta quinta, dia 2.
A participação do Opportunity é contestada dentro da TPSA. O grupo de Daniel Dantas alega que tem 95% da empresa, o que lhe daria direito a US$ 300 milhões. O Citibank, no entanto, disputa na Justiça de Nova York o direito a 33% da TPSA, o que faria a participação de Dantas no negócio cair a US$ 208 milhões. De qualquer maneira, é bem mais do que o grupo de Dantas pagou por esta participação.
Dantas, por sua vez, também não precisou fazer muito esforço para conseguir aportar os US$ 65 milhões que, supostamente, seriam a sua parte no negócio. Ele convenceu o Citibank (suspeita-se que usando a sua influência sobre uma ex-diretora do banco norte-americano, chamada Mary Lynn Putney) a emprestar US$ 22 milhões, prometendo uma participação proporcional em debêntures conversíveis em ações. Os outros US$ 43 milhões Dantas tirou de um empréstimo realizado junto à Brasil Telecom (que ele administrava), empréstimo cujas condições de pagamento foram decididas pelo próprio Dantas.
O Citibank disputa, na Justiça de Nova York, as ações da TPSA equivalentes aos US$ 22 milhões emprestados. Já a Brasil Telecom apenas processa o Opportunity por ter forjado um empréstimo em que a companhia não tinha o poder de decidir qual seria a melhor oportunidade para receber o dinheiro de volta. O Opportunity alega que, nos dois casos, devolveu os recursos tomados emprestados, mas não explicou como é que, no caso do Citibank, prometeu uma coisa e entregou outra. Já na Brasil Telecom, não explica uma situação ainda mais curiosa: trata-se de um caso único em que o devedor escolheu a forma e as condições com que o credor receberia seu dinheiro de volta.
Dantas sai por mais do que teria investido
Ou seja, Daniel Dantas, depois de todas as disputas judiciais travadas com os fundos de pensão e com o Citibank, sairá ainda assim da Telemig e da Amazônia Celular recebendo entre US$ 208 milhões e US$ 300 milhões (ou R$ 395 milhões e R$ 570 milhões), dependendo do sucesso ou não do Citibank na ação que move em Nova York.
A Brasil Telecom, se receber alguma coisa, será apenas uma indenização por eventuais oportunidades perdidas nas condições estabelecidas para o empréstimo que permitiu a compra da TIW.
Vale lembrar que Daniel Dantas foi acusado pela TIW de ter criado a Newtel com base em fraude logo após o processo de privatização para garantir o controle da empresa em detrimento dos reais investidores (fundos e canadenses), mas a TIW retirou a acusação, feita na justiça, como parte do seu acordo de venda em 2003.
Mais que os controladores
O fato mais curioso é que os fundos de pensão devem receber, com base nas proporções de suas participações indiretas na Newtel, cerca de R$ 420 milhões. Já o Citibank deve receber, por sua participação indireta na Newtel, cerca de R$ 165 milhões, e mais 5% da TPSA, equivalentes a R$ 30 milhões. Lembrando sempre que o Citibank ainda disputa os direitos sobre 33% da TPSA em Nova York, que podem render mais R$ 175 milhões. Ou seja, Dantas é o grande beneficiado no acordo costurado pelos fundos de pensão e pelo Citibank com a Vivo pois receberá algo entre R$ 395 milhões e R$ 570 milhões.
Sem criar confusão
Olhando-se o processo de venda da Telemig Celular e da Amazônia Celular, fica claro que fundos de pensão e o Citibank evitaram criar problemas com o Opportunity, talvez até para evitar resistência do grupo de Daniel Dantas. Segundo uma fonte qualificada dos fundos de pensão, a situação da Telemig Celular e da Amazônia Celular no que diz respeito à disputa com o Opportunity foi diferente em relação ao que se viu na Brasil Telecom por conta da capacidade do Opportunity de criar problemas. Tanto é, segundo a fonte, que pouca ou nenhuma auditoria foi feita na gestão do Opportunity da Telemig e da Amazônia. Levantar problemas, diz a fonte, poderia impactar negativamente no valor de venda.