Por Fred Roeder, Andrea Giuricin e Andre Freo *
O inverno não começou apenas no hemisfério sul, mas também pode começar em breve para milhões de telespectadores brasileiros. Uma regulamentação poderá em breve ser responsável pelo desaparecimento de programas como o Game of Thrones e eventos esportivos, como a Liga dos Campeões da UEFA das nossas televisões. Se os políticos não agirem rapidamente, poderemos comprometer a competitividade do Brasil a longo prazo nos serviços digitais.
Os mercados de mídia, digital e de telecomunicações convergem em todo o mundo. Não há mais uma barreira clara entre esses setores, mas um mercado convergente e único se formou. Os agentes neste mercado são mais diversificados e maiores em tamanho de mercado do que antes e a competição é completamente diferente do que temos visto no passado.
Novos operadores estão crescendo graças às fusões e os reguladores precisam ter uma abordagem diferente nesse ponto.
O exemplo brasileiro, em contraste, mostra que a regulamentação está impedindo a integração com mercado único digital. Limitando significativamente o desenvolvimento do "mercado do futuro", como o mercado digital é frequentemente conhecido.
Como em outros setores da economia, o Brasil precisa ter como meta criar um mercado digital único, no qual as operadoras possam integrar conteúdos e canais para oferecer serviços de mídia melhores e mais abrangentes aos seus clientes. Esta importante necessidade não é algo legalmente possível no Brasil atual.
Em particular, um artigo de uma legislação de 2011 sobre fusões entre empresas de telecomunicações e empresas de distribuição e licenciamento de conteúdo audiovisual no mercado de TV por assinatura.
Este artigo é considerado anacrônico mesmo pelo presidente da ANATEL, órgão regulador de telecomunicações do Brasil, "porque está indo contra a convergência que está desenvolvendo no novo ecossistema digital".
O regulamento não está afetando apenas uma importante oportunidade para o Brasil, sendo a fusão entre a AT&T e a Time Warner, mas também afeta a possibilidade de o país continuar atraindo investidores. Ou seja, dificulta a possibilidade de um desenvolvimento digital mais rápido e de mais serviços prestados aos consumidores.
Um ecossistema digital do século 21 é considerado um mercado em que todos os participantes da arena digital podem ter uma concorrência justa, graças também ao desenvolvimento das conexões 4G e 5G.
O mercado brasileiro de dados móveis está se desenvolvendo muito bem e a tecnologia 4G é amplamente adotada. Isso ajuda a facilitar a mudança do mercado com mais de 130 milhões de usuários de conexões de internet móvel de alta velocidade
A chegada do 5G nos próximos anos irá desencadear uma integração vertical ainda mais rápida entre diferentes setores, como foi dito por Leonardo de Morais, presidente da ANATEL.
É uma idéia anacrônica de que o mercado poderia ser segmentado por subcategorias, como telefonemas, anúncios ou conteúdo, como no passado. O papel das autoridades tem que mudar devido a essa nova realidade. A competição justa deve ser planejada não apenas em uma visão clássica, mas também entre operadoras em diferentes setores que agora estão competindo diretamente: um exemplo clássico é uma competição entre os provedores Over the Top (como Amazon Video ou Netflix) e TV por assinatura.
Ser atraente para os investimentos estrangeiros é altamente importante em uma indústria global, como os mercados digital e de mídia, e um elemento-chave para o sucesso do desenvolvimento de novos serviços para os consumidores.
Um ecossistema digital do século 21 no Brasil só é possível se a proibição da integração vertical for revogada. Caso contrário, os consumidores serão prejudicados tendo menos canais de TV ou menos conteúdo disponível na TV por assinatura.
(* Sobre os autores: Fred Roeder é diretor do Centro de Escolha do Consumidor; Andrea Giuricin é sócio da TRA Consulting e professor adjunto da University Milano Bicocca; Andre Freo é professor e gerente de operações Centro de Escolha do Consumidor (Cesco). O artigo é um resumo de uma análise política sobre esta questão, que pode ser encontrada em www.chegadebarreiras.org. O ponto de vista manifestado neste artigo não necessariamente reflete a posição de TELETIME)