A Nokia tem um grande desafio no Brasil: estar presente no mercado de 5G sem ter uma presença expressiva no 4G. A empresa tinha como principal cliente a Oi Móvel, e com a aquisição da empresa para as três concorrentes, precisou acelerar seu posicionamento estratégico. A primeira aposta, obviamente, são os operadores regionais que entrarão no 5G e na faixa de 700 MHz, com 4G. E a outra aposta é ser a ponte tecnológica entre a segurança e confiabilidade dos sistemas tradicionais de telecomunicações com o mundo Open RAN, que promete uma grande diversidade de fornecedores, menores custos e maior flexibilidade no desenvolvimento de aplicações.
Segundo Wilson Cardoso, CTO da empresa para a América Latina, a empresa é uma grande fomentadora da OpenRAN Alliance e acredita que esse modelo de arquitetura aberta pode ter sucesso. "Nós lideramos sete dos 9 grupos de padronização e estamos muito empenhado em desenvolver o ecossistema no Brasil", diz ele. Mas a Nokia sabe que o maior desafio do Open RAN é fazer todas as peças do 'Lego' se encaixarem em redes já estabelecidas e planejadas dentro de um modelo single RAN, com um único fornecedores de equipamentos em toda a parte de acesso. "Nós sabemos como funciona uma rede single RAN porque nós oferecemos isso, e sabemos como é possível integrar todos os elementos", diz o executivo.
Um dos grandes desafios de qualquer operador que vá se aventurar no mundo das comunicações móveis é a integração do core de rede, tecnologia restrita a poucos fornecedores no mundo (Nokia entre eles) e os elementos da rede de acesso, principalmente com as tecnologias 5G, em que existe um elevado grau de inteligência nos sistemas. É nessa ponta que a Nokia quer atuar.
A empresa também tem sido uma das principais fomentadoras de redes privativas, porque acredita que o 5G pode ir além da oferta padronizada das empresas de telecomunicações, e nesse sentido quer ser também ela a integradora de soluções para esse mercado de redes dedicadas.
Reaproveitando energia… das baterias
Um destaque interessante que a empresa demonstrou no MWC 2022, que acontece esta semana em Barcelona, é uma solução tecnológica para que as operadoras de telecomunicações aproveitem a energia armazenada nas baterias que servem de no-break para as estações radiobase para compensar em parte o consumo das ERBs. "Essas baterias estão sempre carregadas e estão quase que permanentemente ociosas, porque estatisticamente o índice de queda de energia é baixo. O que a gente fez foi desenvolver um modelo de previsão estatística de quais as ERBs mais vulneráveis e horários em que a energia é mais cara para que as operadoras possam devolver uma parte dessa energia para a rede, ganhando com isso", explica Cardoso.
O modelo funciona como se a operadora estivesse gerando energia de uma fonte alternativa (solar, eólica…), acumulando energia nos períodos de menor custo e reinjetando a eletricidade acumulada nas baterias na rede pública nos horários em que o custo da energia é maior. "Se o modelo estatístico for bom, você gerencia bem o risco e isso permite uma economia significativa", diz Cardoso