M-payment cresce, mas precisa criar massa crítica para popularização

O anúncio pela Apple do novo sistema de pagamentos Apple Pay, junto com o lançamento dos novos modelos do iPhone 6, no início de setembro, que vai permitir o uso dos smartphones como carteira digital, reacendeu as esperanças de que, finalmente, o mobile payment (m-payment) decole. Para muitos analistas, com a força da empresa no mercado, o serviço pode crescer e transformar o smartphone em um meio de pagamento eficaz.

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Previsto para começar a funcionar este mês nos Estados Unidos, o novo sistema de pagamentos vai permitir ao usuário pagar compras aproximando um iPhone 6 de um terminal de caixa, por meio da tecnologia de conexão sem fio NFC, que faz a transmissão de dados por aproximação. A Apple fez parcerias com Visa, MasterCard, American Express e outras empresas da área financeira para implementá-lo.

Apesar de bem recebido no mercado e do otimismo de parte da indústria, convencer o consumidor a abandonar o cartão de crédito ou débito pelo celular não será uma tarefa fácil. A prova disso é o Google Wallet, serviço de pagamento móvel do Google, lançado em 2011, que serviu para mostrar que depender apenas de tecnologia não funciona. Na época, quase ninguém nos EUA tinha celular compatível com o serviço e as sucessivas falhas de segurança no sistema fizeram com que poucas pessoas se arriscassem a usá-lo.

Erros de avaliação à parte, o que muitos especialistas salientam é que para ter sucesso, as empresas precisam criar massa crítica no lado dos consumidores e no das lojas. Além disso, é preciso superar alguns obstáculos, conforme observa Carlos Estigarribia, sócio da NearBytes, startup carioca que desenvolveu uma tecnologia capaz de transferir dados de um dispositivo móvel sem conexão com internet ou uso de Bluetooth, apenas através do som.

Na opinião do executivo – que participou como um dos palestrantes do Fórum Mobile+, em São Paulo –, há outras questões em jogo para que o m-payment se torne uma realidade para a maioria da população, principalmente no Brasil. Nesse sentido, ele elenca cinco aspectos que considera impulsionadores desse mercado como o foco na população não bancarizada, a simplificação dos processos de pagamento móvel, a necessidade de lojistas e bancos ampliarem o relacionamento com o consumidor, o desenvolvimento de programas de fidelização para ajudar a mudar o hábito do consumidor e melhorias na segurança.

Há também aspectos técnicos que o sistema da NearByres contempla, segundo Estigarribia, como o sistema ser compatível com a base de aparelhos existentes no mercado, não depender de hardware extra ou pareamento, não exigir que o cliente tenha conexão de internet 3G e possuir uma camada de segurança.

Busca de padronização

O diretor de mobile da Visa, Daniel Andrade, aponta outros requisitos para o aumento da adoção do pagamento móvel, tais como a padronização, de maneira a reduzir a fragmentação de sistemas; o aumento da oferta de aparelhos; provisionamento, que possibilita a emissão digital instantânea; aceitação/educação, que permite o aumento do volume de transações; e valor agregado.

De acordo com o executivo, as emissoras de cartão e os estabelecimentos estão em busca de padronização e soluções que atendam as necessidades dos "consumidores mobile". Embora observe que a Visa não é uma provedora de wallet, Andrade diz que ela atua como viabilizadora do m-payment, já que oferece uma solução de tokenização para gerenciamento e provisionamento de contas digitais.

Mas, embora três quartos dos brasileiros que vivem nas grandes cidades já possuam cartões, de acordo com dados do Banco Central, o diretor da SumUp, Igor Marchesini, acredita que o avanço do m-payment depende da adesão dos pequenos negócios, que hoje não utilizam cartão como meio de pagamento.

Dados compilados de várias fontes pela SumUp no Brasil mostram que 32 milhões de pequenos negócios ainda não aceitam cartão, o que revela um grande gap entre o número de estabelecimentos que utilizam cartão de crédito e aqueles que poderiam estar utilizando. A razão disso, em boa parte, segundo Marchesini, é que para a indústria é um grande desafio servir aos pequenos negócios, já que os custos são proibitivos.

"O nosso grande desafio é servir esse micro estabelecimento que processa menos de R$ 1 mil por mês, oferecendo inovação tecnológica por meio de um produto que viabiliza esse novo modelo de negócio no Brasil e no mundo", ressalta Marchesini.

Segundo o diretor da SumUp, esse grande gap entre os 4 milhões que utilizam o cartão de crédito e os outros 32 milhões que buscam essa oportunidade pode ser fechado com as novas tecnologias de pagamento via celular, que começam a se difundir no país, em particular, a mPOS (ponto de venda móvel), leitor de cartões de chip que, acoplado ao celular ou tablet, permite que esses estabelecimentos aceitem as principais bandeiras de cartão de crédito, incluindo Visa, Mastercard, Amex e Elo.

A SumUp oferece uma solução de mPOS, que é comercializada em dez mercados na Europa e na Rússia. Como o leitor pertence ao usuário, a empresa não cobra aluguéis ou mensalidades, apenas um percentual do valor de cada transação.

Resoluções

O aspecto que talvez possa interferir mais diretamente no crescimento do m-payment, conforme alerta o sócio-diretor da JD Consultores, José Jardim, são as novas regras do Banco Central para os arranjos de pagamentos, que reúnem as normas e as instituições que permitem ao cidadão realizar transações de pagamentos via m-payment.

A medida publicada pelo BC por meio de duas resoluções (3.704 e 3.705) alterou as regras de alocação de recursos, capital mínimo, autorização e registro. Essas normas disciplinam, por exemplo, operações com cartões de crédito, cartões pré-pagos, moedas eletrônicas e operações de pagamentos eletrônicos. O BC justifica que o crescimento do setor implica a assunção de riscos que precisam ser mitigados mediante ação regulatória proporcional e fiscalização.

"De acordo com a autoridade monetária, as instituições terão de alocar recursos no Banco Central para poder operar. O valor alocado deve corresponder ao saldo de moeda eletrônica mantida em contas de pagamento, acrescido do saldo de moeda eletrônica em trânsito entre contas de pagamento na mesma instituição de pagamento", explica o consultor. Além disso, o BC estipulou parâmetros para que esses arranjos de pagamento possam ser considerados integrantes do Sistema de Pagamento Brasileiro.

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