SGDC não trouxe surpresas, mas setor encara Telebras como competição

Satélite brasileiro SGDC

As operadoras de satélite não ficaram surpresas com a entrada da grande oferta de banda Ka do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC) da Telebras no mercado. Mas a forma com a qual esta capacidade será comercializada é que deixou o as empresas apreensivas. A visão geral dos representantes das principais empresas atuantes no mercado é que ainda é preciso esperar pelo leilão (que ocorrerá no dia 27 de setembro) para se entender o que a Telebras pretende. Mas há receios de que o impacto seja sentido independente do resultado. Este foi o principal tema de discussão no último dia do Congresso Latinoamericano de Satélites, nesta sexta-feira, 1.

Na visão do vice-presidente de marketing para América Latina da SES, Jurandir Pitsch, o mercado já esperava haver o aumento significativo de capacidade quando o governo brasileiro anunciou a decisão de lançar o SGDC e encomendou um satélite com 60 Gbps em banda Ka. "Era um pouco ingenuidade acreditar que o governo fosse utilizar (tanta capacidade) para aplicações para ele próprio", diz. Mas afirma que isso afeta o mercado assim mesmo, uma vez que esses serviços poderiam ser atendidos por frotas comerciais. "Tem que manter as regras isonômicas, mas o impacto aconteceria de qualquer forma; não muda nada para nós." Pitsch declara ainda não ver sentido comercial em participar de um leilão "cujas regras são definidas pelo vendedor".

"Causou surpresa da maneira como foi feito", avalia o diretor geral da Hispamar, Sérgio Chaves. "Não esperava que fosse entrar um novo player (no mercado de capacidade em atacado), não tínhamos a percepção." No ponto de vista dele, a Telebras acabou se tornando mais um concorrente. O diretor geral da Eutelsat, Rodrigo Campos, concorda. "É mais um competidor", determina. "Desde o começo a gente entendeu quando estava fabricando que teria 60 Gbps e que seria disponibilizado no mercado", reitera.

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Sem concorrências

A StarOne, que tem o governo como um importante cliente, não há riscos de uma competição maior, segundo o presidente da operadora, Gustavo Silbert. "Como (o SGDC) é banda Ka e nossos contratos são em outras faixas de frequência, não vejo competição específica em relação aos contratos que hoje existem", declara. No entanto, ele critica as regras do edital. "Para mim não estão muito claras e estamos avaliando como vai se comportar."

Há também o impacto do preço do megabit no atacado. Na avaliação do diretor comercial da Intelsat, Márcio Brasil, isso será sentido no mercado de banda larga residencial via satélite. "Acho até que vai ter capacidade em determinadas regiões difícil de ser absorvida." Para outras aplicações com demandas mais robustas e entregas de maior tráfego pontual, ele acredita que não haverá concorrência direta. "Sempre há canibalização quando se aumenta oferta e há migração em parte das aplicações, mas isso acaba se acomodando", prevê. Para ele, a Intelsat também não concorre diretamente com a Telebras.

PNBL no foco

"Acho que há concorrência direta, e não tem problema. A questão que temos que tomar cuidado é com a isonomia", diz o diretor geral da Telesat, Mauro Wajnberg. Um dos problemas que ele vê é a justificativa de que o leilão do SGDC visa atender o Plano Nacional de Banda Larga, mas ele afirma que a iniciativa carece de definições mais específicas. "Um dos objetivos (do edital) é fornecer backhaul para entidades públicas ou privadas, mas posso interpretar também que a posição orbital que eu adquiri (…) será usada exclusivamente para o PNBL", afirma.

Em resposta a esse questionamento, o gerente de tecnologia e soluções satelitais da Telebras, Bruno Henriques, respondeu aos debatedores no painel. "O Mauro (Wanjnberg) está certo quando fala que o (c0nceito de) PNBL é um pouco abstrato, mas acho que serviços de telecomunicações é algo abstrato, pois tudo é dados", defende. Ele destacou que transmissão de imagens, vídeo, áudio, texto – qualquer coisa pode ser classificada como serviços de telecomunicações, mas que a Anatel faz distinções, como o serviço de broadcasting (que ele diz não poder ser feito pelo SGDC). "O uso efetivo de 100% do SGDC tem de ser destinado ao PNBL, e ele é isso: serviços de telecomunicações prestados pela Telebras à administração pública ou para parceiros da Telebras entregando infraestrutura."

1 COMENTÁRIO

  1. Como a Telebrás pretende recuperar o investimento de 2.8 bilhões de reais se o mercado pratica não mais que 30 dólares/MHz/mês?? Se leiloar 42 GHz (70% do SGDC) a este valor, serão 1.26 x 12 MUSD/ano. Para um tempo de vida de 15 anos, o montante chega a 227 MUSD, ou 726 milhões de reais!!

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