Pré-pago promete futuro de inclusão financeira no Brasil

Rupert Shaw é diretor comercial da Ding

Entre todas as inovações no setor das telecomunicações, o sistema pré-pago talvez esteja entre as mais revolucionárias. Inicialmente, a grande maioria da população mundial contava apenas com telefone fixo quando muito, e poucos eram os empresários com contas bancárias compatíveis com as mensalidades para fazer chamadas móveis e enviar mensagens de texto. Embora fossem uma minoria, isso atribuía a eles uma imagem de elevado status e importância. 

Foi ainda nos anos 1990 que, conforme o preço dos aparelhos baixou, e os planos pré-pagos surgiram, a conectividade móvel tornou-se uma realidade possível para uma enorme faixa de pessoas no planeta. Ali acontecia, talvez, a maior força democratizante já promovida pela indústria das telecomunicações.   

De certa forma, o pré-pago foi um dos primeiros vetores da inclusão financeira, por permitir o acesso à conectividade a quem não tinha conta em banco ou cartão de crédito. O simples ato de fazer uma recarga em nossos aparelhos, ou o de transferir crédito a algum de nossos entes queridos, prevaleceu sobre a infraestrutura sofisticada e geradora de um terreno fértil para inovações arrebatadoras. Os resultados de uma pesquisa conduzida por nós, da Ding, com 7.000 pessoas de nove países ao redor do mundo, baseada no nosso Índice Global Pré-Pago, ressaltaram a importância – e contínua ascensão – do mercado do pré-pago. 

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A preferência pela modalidade é particularmente notável nas regiões com baixa penetração bancária. No Brasil, apesar dos estimados 60 milhões de desbancarizados, uma imperiosa taxa de 90% dos respondentes da pesquisa alegou usar telefone pré-pago mais por razões como a flexibilidade, do que por serem inelegíveis a outras opções. Este seria um indício de que ainda existe um tremendo potencial para a expansão desse mercado, principalmente entre os desbancarizados. 

Nessa mesma linha, a possibilidade de se enviar e receber contribuiu para a criação de um ambiente no Brasil em que amigos e familiares pudessem facilmente e rapidamente compartilhar créditos entre si. Mais de 60% dos brasileiros disseram ter usado créditos pré-pagos de telefone nos últimos seis meses. Enquanto  pessoas de outros países tendem a compartilhar créditos uma vez por semana, essa é a periodicidade adotada por menos do que um a cada quatro brasileiros, que preferem enviar ou receber créditos mensalmente. Novamente, aqui, se observa um claro potencial para a expansão da modalidade. 

E, é claro, hoje em dia os celulares não são os únicos dispositivos passíveis de recargas -há cartões de débito e cartões virtuais pré-pagos, vale-presentes e outros. Em um país onde as compras podem ser parceladas em várias prestações, serviços financeiros alternativos ao sistema bancário tradicional tornam-se mais atraentes, por permitirem um maior controle e transparência dos gastos usando um aparelho  celular. Isso é o que se observa diante de outro número contundente da pesquisa – 44% dos brasileiros têm contas em instituições financeiras digitais – vultosos 28% a mais do que em qualquer outro país pesquisado.

Força democratizante 

O interesse por serviços pré-pagos se alastrou mundo afora em meio às incertezas causadas pela pandemia de Covid-19, tornando-se a opção preferida das pessoas com a finalidade de controlar orçamentos e despesas, promovendo, ainda, a inclusão financeira para limites mais periféricos.  A força democratizante que o sistema agregou às telecomunicações irá permear também outros setores da economia, a partir dessa premissa de fazer pagamentos antecipadamente.  

Quanto mais avançam regulamentações para essa modalidade, mas poderemos aguardar por inovações empolgantes, como os super aplicativos, que estão se alastrando pelo mundo. Tratam-se de aplicativos únicos que reúnem serviços diversos, incorporam carteiras digitais, fazem transferências e permitem pagamentos para a aquisição de bens e de serviços. Em uma sociedade que prioriza o dinheiro em espécie, essas ferramentas podem causar uma revolução, promovendo inclusão maior não apenas de consumidores, mas de empreendedores também. 

Nossa pesquisa aponta a existência de uma enorme demanda por super-aplicativos no Brasil. Cerca de 70% dos entrevistados disseram ter interesse em um app similar ao chinês WeChat, sendo o segundo maior resultado entre os nove países, além de maior que o dobro do resultado nos Estados Unidos. Talvez sejam a próxima etapa da revolução mobile – super-apps.  

Vivemos em um mundo de enormes desigualdades financeiras, e o ano que passou mostrou aos anunciantes o quanto isso pode influenciar os rumos da sociedade. Detentores de recursos – isto é, internet, produtos e serviços financeiros – se posicionaram melhor em relação às incertezas geradas pela pandemia. Já aqueles que perderam o emprego, regrediram ao nível da desbancarização ou da sub-bancarização, batalharam. Para eles, o sistema pré-pago tornou-se uma ferramenta de manutenção do acesso à comunicação e a serviços financeiros, além de um caminho para manterem  os seus orçamentos e despesas sob controle.   

É claro que ninguém quis uma pandemia, mas ela ao menos evidenciou os benefícios revolucionários do avanço das telecomunicações. A necessidade humana de se comunicar, seja compartilhando momentos de amor, ajudando amigos e familiares – por meio da transferência de créditos para celular, ou pagamento de contas – cresceu mais do que nunca. E, para muitos, no Brasil e no mundo, isso só é possível graças ao sistema pré-pago.

*  Sobre o autor – Rupert Shaw é diretor comercial da Ding, empresa de recargas e de transferência de créditos mobile

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