Geopolítica pode afetar padronização do 6G?

O CEO rotativo da Huawei, GuoPing, em sua palestra durante o Mobile World Congress, começou seu pronunciamento com uma provocação: "para saber o futuro precisamos olhar além da política". Ele falava sobre as dúvidas acerca da capacidade competitiva da Huawei com as dificuldades enfrentadas. Foi uma mensagem aparentemente  indireta, mas bastante clara, à desconfortável situação da empresa por conta das restrições impostas pelo governo dos EUA. Foi o início de seu raciocínio sobre a estratégia da empresa.

Presidente rotativo da Huawei, Guo Ping

No mesmo dia, a chairwoman da FCC (órgão regulador dos EUA), Jessica Rosenworcel, conclamou a indústria a começar a discutir e planejar o 6G, aprendendo com os erros do passado, destacando na sua fala preocupações com segurança nacional.

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Não era um recado direto, mas nas entrelinhas estava evidente a estratégia dos EUA de tomar a dianteira do debate contra a China, especialmente contra a Huawei.

Jessica Rosenworcel, chairwoman da FCC, em discurso no MWC 2022

Ruptura de padrões?

Um especialista ouvido por este noticiário com larga experiência no processo de desenvolvimento das tecnologias móveis ouvidos por este noticiário analisam os episódios como parte de um tensionamento que começa a acontecer, em que alguns atores já parecem estar tentando deixar outros atores de fora dos debates sobre padronização do 6G.

Isso levaria a um risco, na visão deste especialista, a um risco real de que o 6G acabe não padronizado, ou seja, países ou grupos de países usariam tecnologias diferentes. Isso aconteceu nas primeiras gerações das tecnologias móveis digitais e apenas no 3G a indústria voltou a se padronizar. O 4G e o 5G foram esforços concretos de colaboração de todos os fabricantes, de todos os países. Mas a crescente escalada dos EUA contra os chineses parece estar empurrando a indústria de telefonia móvel por um caminho de ruptura.

Paul Scanlan, CTO da Huawei, acredita que o bom senso vai prevalecer. Questionado por este noticiário, ele disse que é um benefício par qualquer fabricante, de qualquer país, ter um padrão único de 6G, porque isso amplia significativamente os mercados disponíveis para todos. "Acho que o 6G ainda está muito distante, é algo para 2030. Ainda estamos nos primeiros momentos da padronização, e não acredito que se perderá o valor da colaboração". Mas ele não disse que esse risco não exista.

Segundo Scanlan, é equivocado assumir que o 5G tenha qualquer tipo de risco de segurança. "É de longe a tecnologia móvel mais segura que já foi desenvolvida, não existe nenhum risco de segurança. Afirmar isso é o mesmo que insinuar riscos à saúde, é desinformação".

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