Padronização do 5G pode ser acelerada, mas conflitos de espectro e Capex das operadoras podem ser problema

No último final de semana, no começo do Mobile World Congress em Barcelona, alguns dos pesos pesados da indústria de telecomunicações, como AT&T, NTT DOCOMO, SK Telecom, Vodafone, Ericsson, Qualcomm, British Telecom, Telstra, Korea Telecom, Intel, LG Uplus, KDDI, LG Electronics, Telia Company, Swisscom, TIM, Etisalat Group, Huawei, Sprint, Vivo (a fabricante, chinesa, não a operadora brasileira), ZTE e Deutsche Telekom decidiram anunciar uma espécie de "atalho" no processo de padronização das redes 5G pelo 3GPP para tentar viabilizar a antecipação em um ano do início das operações comerciais da nova tecnologia. O grupo se comprometeu a manter o padrão intermediário compatível com o que vier a ser definido pelo 3GPP para evitar a fragmentação, mas antecipar o que for possível para ter o 5G no mercado em 2019.

Contudo, algumas operadoras manifestaram, durante o Mobile World Congress, a preocupação de outros operadores com uma eventual precipitação. Manifestações nesse sentido foram ouvidas do CEO da Orange, Stephane Richard, que disse que sem "Capex não existe 5G", e principalmente do CTO da Telefónica, Enrique Blanco, que chamou de "grande erro" esse esforço de aceleração. Afinal, as redes 4G começaram a ser instaladas de maneira mais massiva há pouco mais de cinco anos e o ciclo de investimentos e amortização do que foi gasto em espectro e redes ainda é longo. Blanco lembrou ainda que a quinta geração vai muito além de trocar antenas e elementos de rádio e handsets. É preciso ajustar toda a arquitetura da rede para permitir, por exemplo, o fatiamento de qualidade de serviços. Ele prevê que o ciclo de introdução de 5G será muito mais longo do que foi o da 4G.

Ainda assim, as operadoras, como sempre ocorre nas trocas de geração, correm como podem para ocupar espaço. Este ano, durante o MWC 2017, a Ericsson e a própria Telefónica demonstraram a transmissão 5G-NR móvel, com um veículo se deslocando por Barcelona em locais em que foram instalados transmissores 5G de demonstração. A KT Telecom, da Coreia do Sul, promete a tecnologia funcionando em testes de campo de grande escala para os Jogos Olímpicos de inverno em 2018, que acontecerão no país em um ano, e operações comerciais 5G no início de 2019.

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Padrões e frequências

Os esforços de padronização acelerada de alguns fornecedores já começa a ficar evidente.  No MWC2017 apareceram, já com forma de produtos efetivamente em desenvolvimento, soluções e pilotos dos elementos de rádio das redes 5G, seja na forma emulada, seja na forma de transmissões experimentais. O que está sendo chamado de 5G-NR (New Radio) já é demonstrado por fabricantes, seguindo alguns referenciais do que deve vir a ser a padronização do 3GPP e algumas liberalidades dos fabricantes, por exemplo na escolha das faixas de frequência. Por enquanto, duas faixas têm sido as "candidatas" principais.

Na porção "sub-6 GHz" do espectro, que possivelmente será dedicada às aplicações com nível crítico de confiabilidade quando a quinta geração chegar, as faixas candidatas, pelo menos nas indicações dos primeiros testes, estão entre 3,3 GHz e 5 GHz. Já na faixa das chamadas "ondas milimétricas", que permitem velocidades muito maiores mas que apresentam problemas mais complexos de interrupção dos sinais e linha de visada, as faixas de 28 GHz e 39 GHz prevalecem entre as preferidas dos fabricantes.

Nos dois casos, contudo, há problemas. No caso da faixa de 3,5 GHz (3,4 GHz a 3,6 GHz), pode haver problemas de interferência com os equipamentos de recepção por satélite em banda C, que operam acima de 3,6 GHz, mas são afetados por conta da inexistência de filtros nos equipamentos mais antigos. Por esta razão, por exemplo, a Anatel nunca conseguiu viabilizar o uso da faixa de 3,5 GHz no Brasil, mesmo depois de licitá-la. 

Já a faixa de 28 GHz é reservada internacionalmente para a banda Ka (satélite) e não está disponível em países como o Brasil e em muitos países europeus, ainda que nos EUA e Coreia haja uma pressão para uso desta faixa para 5G. O mais provável, contudo, é que a indústria acabe se acomodando na faixa de 24 GHz a 26 GHz para a próxima geração. Mas são esperadas disputas nos organismos internacionais de definição. 

Do ponto de vista dos equipamentos terminais, o caminho ainda é longo. No ano passado a Qualcomm já havia anunciado o chip X50, que supostamente terá condições de trabalhar com o padrão 5G-NR, mas a expectativa é que equipamentos com essa tecnologia ainda demorem pelo menos dois anos para chegar ao mercado.

1 COMENTÁRIO

  1. Prezado Samuel: Excelente artigo. Todas estas discussões de espectro pra 5G vão desaguar na Conferência Mundial de Radio da UIT em novembro de 2019. Mas as primeiras redes de 5G serão lançadas antes disto nos Estados Unidos, Coréia e Japão, provavelmente utilizando 28 GHz.

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