Citi aconselhou Opportunity a tirar italianos do controle da BrT

O Citigroup, além de ter participações acionárias na Brasil Telecom não reveladas às autoridades brasileiras ou norte-americanas, também presta serviços de consultoria à diretoria da BrT. Ele teve um papel central, como conselheiro contratado, no processo de negociação que culminou com a saída da Telecom Italia do bloco de controle da Brasil Telecom. Isso fica claro com a leitura da defesa apresentada pelas empresas Techold e Timepart à 4ª Vara Empresarial da Justiça do Rio de Janeiro, em resposta ao processo movido pelos italianos, que querem o reconhecimento de seus direitos de controlador e a restituição das ações vendidas em 2002 para o Opportunity.
Segundo os documentos disponíveis na Justiça do Rio, a diretoria da Brasil Telecom e do fundo CVC Opportunity (não é especificado qual CVC), na ocasião da negociação com os italianos (em meados de 2002), contratou o Salomon Smith Barney, braço do Citi responsável inclusive por análises de mercados e estratégias corporativas, para dar parecer sobre a forma de conduzir o processo. Segundo o texto da defesa, a proposta da Telecom Italia de incluir uma cláusula impedindo a BrT de prestar serviços móveis "foi rejeitada, porque contrária à lei e ao interesse da companhia, como expressamente destacado pelo Citigroup (na época sob a denominação de Salomon Smith Barney Inc.) contratado para prestar assessoria nas negociações que envolviam a retirada da Telecom Italia do grupo de controle da Brasil Telecom".
O texto transcrito do parecer na defesa apresentada pela Techold e Timepart diz o seguinte: "A pedido de Vs. Sas., por este meio confirmamos que no decorrer de nosso compromisso aconselhamos em diversas ocasiões a administração da Brasil Telecom e CVC Opportunity que, em nosso parecer, a Brasil Telecom e/ou CVC Opportunity não deverão celebrar um acordo impedindo no futuro a Brasil Telecom de ingressar nos negócios tais como serviços sem fio e de longa distância nacional, a não ser que o referido acordo remunere adequadamente a Brasil Telecom e por conseguinte seus acionistas, por não explorar tais oportunidades de negócios. (…) Destacamos em especial que o referido acordo poderá obrar em geral contra os interesses dos acionistas da Brasil Telecom". O texto original está em inglês e a tradução foi feita pela defesa. Enviamos ao Citigroup, em Nova York, pedido de esclarecimentos sobre este serviço de assessoria mas ainda não tivemos resposta.

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Em nenhum momento do texto da defesa feita pela Techold e Timepart, entretanto, é dito que o Citigroup é investidor e acionista da Brasil Telecom. Como se sabe, o Citi é o principal investidor do CVC Opportunity Equity Partners L.P., fundo controlador da Techold. E é, ainda que isso não seja declarado às autoridades brasileiras ou norte-americanas, acionista da Timepart através da empresa CSH LLC, conforme revelado por este noticiário. Em entrevista ao Jornal Valor à época da negociação com os italianos, Daniel Dantas declarou que o Citibank chegou a dar carta branca para o Opportunity comprar a participação da Telecom Italia na Brasil Telecom. O Citi, oficialmente, nunca comentou sua participação na BrT via empresas de fachada.

Investigações

Chama a atenção o fato de o Citi ter usado o braço Salomon Smith Barney para dar sua posição sobre a negociação com a Telecom Italia. Justamente no período da negociação, ou seja, no segundo semestre de 2002, explodia um dos vários escândalos financeiros que assolaram Wall Street: a Salomon Smith Barney, já então funcionando como um braço do Citigroup para análises de mercados, era acusada pelos representantes de acionistas minoritários dos EUA de fazer avaliações positivas de empresas em que o Citi tinha participações. Como conseqüência desse escândalo, a Salomon, teve seu nome mudado para Citigroup Global Markets, Inc, e celebrou em abril de 2003 com a Securities and Exchange Comission (SEC) um acordo de US$ 400 milhões por eventuais danos causados ao mercado em decorrência de práticas pouco ortodoxas de análise. Na ocasião, Sanford Weill, presidente do Citi, declarou:" Como disse em setembro de 2002, algumas de nossas atividades não refletiram a forma como acreditamos que negócios devem ser feitos. Isso nunca deveria ter acontecido, e eu sinto muito por isso. Acredito que todas as atividades do Citigroup devam refletir práticas melhores", referindo-se aos métodos de trabalho da Salomon Smith Barney e do Citigroup em relação, sobretudo, a empresas de telecomunicações. A declaração foi feita quando o acordo com a SEC foi firmado. Weill foi acusado de pressionar a Salomon a fazer avaliações de empresas em que o Citi tinha interesse, tais como AT&T e WorldCom. Que a Salomon também fez avaliações sobre a estratégia da Brasil Telecom, ainda que encomendadas, isso só agora se veio a saber.

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