Morre Cláudio Dascal, um dos idealizadores da TELETIME

Morreu nesta quarta, 26, aos 73 anos, o engenheiro Cláudio Dascal. Dascal foi executivo na Telefunken, Tadiran, Elebra, Alcatel, Grupo Abril, Amdocs e CelPlan, atuando em posições de destaque na Espanha, em Israel e no Brasil. Dascal deixa esposa, três filhos e cinco netos. O enterro acontece nesta quinta, 27, às 11 horas, no Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo.

Cláudio Dascal é também parte indissociável da história do setor de telecomunicações e desta TELETIME. Ele foi um dos responsáveis pela idealização e concepção da publicação, da qual foi consultor editorial e articulista fixo desde a primeira edição, em abril de 1998 a novembro de 2013, quando a edição impressa deixou de circular. Com sua visão tecnológica e empresarial, teve a disposição de ensinar muitos dos jornalistas que passaram pela nossa redação a pensar as pautas setoriais e o mundo das comunicações com um olhar mais próximo do dia-a-dia do mercado, sem nunca perder o sentido estratégico e a relevância econômica das telecomunicações para o País.

Alguns dos melhores artigos de Dascal foram compilados em um livro editado em homenagem aos seus 70 anos, em 2013, com o nome de sua coluna fixa na TELETIME, "Ponto & Contraponto". A íntegra do livro está disponível para download aqui. É um registro importante de mais de 15 anos de observação e análise sobre a história recente das telecomunicações. Um dos artigos, escrito quando a Lei Geral de Telecomunicações estava para completar 10 anos, em 2007, está transcrito ao final deste texto. A reflexão é emblemática do tipo de análise que Dascal gostava de trazer em seus artigos, e é ainda hoje atual, por trazer muitos dos desafios e questões que hoje são vividas pelo setor.

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Para a equipe de TELETIME, é a perda de um amigo e alguém que ajudou a conceber uma visão editorial inovadora, antenada com o um novo tempo nas telecomunicações, visionária em relação a muitas das mudanças pelas quais o mercado passou e ainda passa. Ficam para nós as boas lembranças e o aprendizado.

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Nostalgia com um olho no futuro…

Por Cláudio Dascal (originalmente publicada em maio de 2007)

Estou numa ilha, ao largo do litoral do Rio de Janeiro. O uso disseminado de celulares e a disponibilidade de Lan Houses é algo que salta à vista. É fantástico como pequenos negócios se viabilizam, e o caso mais notável é o radio táxi boat usando o número de seu celular como meio de chamada. As Lan Houses permitem que eu escreva esta coluna no meu notebook e a envie pela internet usando seus serviços. Esta constatação não é uma novidade. Mas para quem viveu toda a evolução das telecomunicações e informática nos últimos 30 anos e em particular nos últimos dez anos é sempre uma razão para se maravilhar, e nunca é demais registrar este avanço.

A nostalgia me leva a lembrar e compartilhar experiências de 20 a 30 anos atrás, que se caracterizavam por uma extrema dificuldade de comunicação. Na primeira destas experiências, há cerca de 30 anos, recordo-me de que quando tive a oportunidade de desenvolver negócios na Nigéria, a precariedade das telecomunicações tinha um quê de heróico e me levava a trabalhar com telex, tendo que preparar e transmitir fitas telex, no meio da madrugada, em uma cabine pública em Lagos, capital da Nigéria na época. Esperava pela resposta no dia seguinte, se tivesse sorte. Além disto, o instrumento para a edição de documentos e textos contratuais era uma máquina de escrever portátil, Lettera 22, sem recursos de edição de texto.

Outra experiência memorável, também há quase 30 anos, foi comunicar-me, algumas vezes, durante as férias, com o escritório e diretores da Telesp de então, sobre questões de projetos em andamento. Para isto, usava telefones a manivela (de magneto), mesmo estando no eixo Rio – São Paulo, sendo que a operadora usada era de Resende. Estas histórias pessoais servem para ilustrar para aqueles que usam hoje os recursos do celular e da internet de forma tão natural, o tremendo salto que foi dado em um prazo tão curto, fruto da tecnologia e de altos investimentos em infra-estrutura de telecomunicações.

As datas sempre ensejam um pouco de nostalgia do passado, pelas dificuldades vencidas e batalhas ganhas, o que tem o valor de nos dar uma boa noção de perspectiva histórica em relação ao passado e uma esperança sobre o futuro. Nos últimos 15 anos, tivemos avanços notáveis que começaram com as discussões sobre a privatização e seus modelos e que culminaram com a Lei Geral de Telecomunicações que permitiu a privatização do Sistema Telebrás e abertura para empresas privadas explorarem segmentos e faixas de freqüências ainda não usadas.

Dez anos de privatização, 40 milhões de terminais fixos, 100 milhões de celulares e a banda larga crescendo agora mais rapidamente, com perspectivas animadoras graças às novas tecnologias disponíveis. Ao mesmo tempo, sabemos que se tivessem sido feitos maiores investimentos e se pudéssemos usar o Fust, estaríamos num caminho irreversível e seguro de inclusão digital e desenvolvimento sustentável. Além disto, teríamos aproveitado a tempo o divisor digital, em lugar de estarmos discutindo a quem cabe a bandeira e a responsabilidade sobre a inclusão digital, sem que nenhuma das instâncias governamentais tome a liderança de um programa viável.

Chegamos ao estágio atual porque alguém teve uma visão e incentivou o debate de como avançar a passos rápidos, o que de fato se conseguiu. Neste momento, o desafio é criar condições para a convergência de redes e serviços, faltando uma visão e o estímulo ao debate para que consigamos criar os instrumentos para os próximos 15 anos. As leis e os regulamentos vigentes e o fato de que a jurisdição sobre pedaços do que sejam os segmentos que compõem os serviços convergentes não estão unificados, como no caso de telecomunicação e mídia. Isto leva a um atraso nas definições que permitam acompanhar o desenvolvimento desta integração, perdendo o Brasil o passo do que é o debate mais importante na maior parte do mundo.

Esse atraso nos vai mais uma vez colocar como caudatários deste processo, com impactos negativos no desenvolvimento de tecnologia e no aproveitamento da capacidade industrial instalada no País, inclusive colocando em risco o equilíbrio da balança comercial do setor e a manutenção de empregos no setor industrial, podendo comprometer até a Zona Franca de Manaus.

TELETIME é parte dessa história. Foi criada há dez anos como uma janela para o mundo. Procurava na época aproximar o leitor do que acontecia fora do Brasil, que até a privatização era extremamente fechado, mesmo provinciano, com uma grande defasagem entre as tecnologias e serviços disponíveis no mundo e a sua apresentação para os clientes brasileiros. Mantém a característica informativa e é uma janela para que tentemos achar esta visão que precisamos para desenhar os próximos dez a 15 anos.

21 COMENTÁRIOS

  1. Obrigado por recuperar um texto que sem dúvida traduz a essência do que foi Claudio Dascal para as telecomunicações mo Brasil.
    Sentiremos muita falta.

  2. Obrigado por recuperar um texto que sem dúvida traduz a essência do que foi Claudio Dascal para as telecomunicações mo Brasil.
    Sentiremos muita falta.

  3. Tive o privilégio de conviver com o Dascal na Telefunken, Elebra e Editora Abril. Deixa um enorme vazio no nosso segmento. Devemos muito a ele.

  4. Trabalhei com o Cláudio Dascal na Elebra, por alguns anos. Líder nato, com perspicácia admirável.
    Sua generosidade era notável e seu pioneirismo nas telecomunicações não pode ser esquecido.
    Juntos "limamos" modems para o Transdata e falamos de futebol. Era um Corintiano de boa cepa e sabia respeitar os subordinados.
    A ele devo muito, pois foi um grande incentivador ao longo de minha carreira.

  5. Tinha uma visão do mercado de Telecomunicações ímpar e com uma visão de futuro clara e precisa.
    Nós seus colegas e amigos sentiremos muita falta.

  6. Foi com pesar e tristeza que recebi a notícia da morte de Cláudio Dascal, companheiro e colega de juventude e que há muito tempo não nos encontrávamos. Meus sentimentos à família.
    Roberto Smith- Fortaleza-Ceará.

  7. Uma grande perda e um nome admirado pela sua proatividade em defesa do setor. Tive o prazer de tê-lo como superior hierarquico na Alcatel. Um grande estrategista, nesmo que enigmatico em muitas decisões.
    Que Deus o tenha e proteja sua familia.

  8. Perda inestimável! Incrível capacidade de trabalho, energia e desprendimento. Amigo de tantas horas e lugares, há mais de meio século. Descanse.

  9. Eu tive o privilégio de trabalhar com o Dascal na CelPlan por mais de 10 anos. Tive o privilégio de aprender muito.
    Deixo aqui o sentimento de gratidão por ele ter acreditado em mim e ter me dado oportunodades de crescer emquanto profissional.
    Tom

  10. Parte um personagem importante dentro deste mercado tao grande e tao pequeno ao mesmo tempo. Ele contribuiu muito para as telecomunicações no Brasil, deixa um legado importante suas ideias, seu espirito empreendedor e focado com o crescimento, alem dos profissionais que ele ajudou a formar. Meus sentimentos a familia.

  11. Cládio Dascal, muito sagaz, hábil e muito admirado pela sua vocação nos negócios de telecomunicações,nas empresas onde trabalhou.

  12. Trabalhei por diversos anos com o Claudio, na Elebra e Alcatel. Brilhante executivo e principalmente um pessoa humana impar.
    Vim saber de seu falecimento somente agora, o que me entristece profundamente.

    Paulo de Tarso, Sydney, 15/12/2018

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