Modelo de negócios para banda larga via satélite fecha a conta, dizem operadoras

A aposta de levar a conectividade via satélite em regiões remotas pode variar de acordo com cada operadora, mas em comum estão os desafios típicos do mercado brasileiro, como as barreiras regulatória e tributária. Entretanto, na visão de representantes do setor no Congresso Latinoamericano de Satélites nesta terça-feira, 14, mesmo diante do cenário complexo, a conta fecha.

Gerente geral de community WiFi da Viasat, Kevin Cohen afirma que a empresa já realizou levantamentos sobre o mercado brasileiro, e que pretende trazer a experiência de três anos e 1.500 comunidades no mercado mexicano, o qual alega ser muito semelhante ao do Brasil. A proposta, contudo, continua ser a de fechar a conta com retorno comercial: "Somos uma empresa aberta (com ações em bolsa), então tudo que fazemos é para lucrar". A ideia é que, mesmo com cunho social, o serviço de Wi-Fi comunitário consiga rentabilização com a demanda, além de proporcionar outros serviços como bancário e de educação. Cohen garante que o esquema funciona mesmo sem a política pública como do programa Internet para Todos. "Fazemos a aposta sem. Com isso, vai baixar o custo para o consumidor final, não baixa nosso lucro."

Para executar a estratégia levando em consideração todos os desafios tributários, Cohen diz que a maior quantidade de contratações da Viasat no Brasil é de advogados. "Estamos focado em levar o serviço legal, tudo de forma certa, temos contadores", brinca.

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O objetivo da companhia é contar com a cobertura nacional do SGDC para oferecer banda larga onde não há nenhuma oferta prévia de outra empresa. "Nosso mercado é onde operadoras não vão entrar com token para 300 pessoas e investimento (por usuário) de R$ 5", declara. Isso será possível por meio de pacotes de dados pré-pagos com acesso por hora. A oferta de um serviço de dados sem franquia, como a Viasat faz nos Estados Unidos ao analisar tráfego e reduzir qualidade de vídeos, por exemplo, dependeria não apenas de evitar conflitar com a neutralidade de rede no Marco Civil da Internet, mas também da pura oferta de capacidade. "O traffic shaping ajuda, mas nos EUA estamos lançando satélites com maior capacidade, o Viasat-3 tem mais de 1 Tbps e já estamos desenvolvendo e construindo mais satélites. Essa é a única maneira de chegar com serviço ilimitado", justifica. O satélite Viasat-3 terá cobertura em todas as Américas, incluindo o Brasil, mas com capacidade flexível para ajuste de transmissão direcionado. "Se tivermos país que não aceita nossa entrada, não entramos."

Sem ajuda

O diretor geral da Hughes, Rafael Guimarães, confirmou o início em dois a três meses de um piloto de Wi-Fi comunitário da companhia em um estado do Nordeste. Serão de 50 a 60 distritos para ver a viabilidade do negócio, explica. O piloto será usado justamente para validar o modelo no Brasil, tendo em perspectiva a carga tributária e regulatória. O modelo, argumenta, é semelhante ao aplicado pela ViaSat no México, com a distribuição de banda Ka não em V-SAT na casa do assinante, mas em uma tena para a população local. Ele receia a complexidade da relação contratual com varejistas locais para a venda de tokens de acesso, além de impostos. "São questões que precisa analisar e ver se é viável", diz.

A participação no programa Internet para Todos do governo, o qual alega ainda não estar com diretrizes claras, é bem-vinda devido à isenção do ICMS, mas não é considerada como única solução. "A ideia é ser viável sem subsídio", afirma. "Seria ótimo, de fato ajuda, mas o desafio é fazer isso vingar do jeito que está hoje, e com dúvidas que precisa sanar para fazer em escala."

Por sua vez, a estratégia de banda larga residencial via satélite com o serviço HughesNet, continua. Guimarães explica que a entrada da Yahsat ajudará a atender um mercado ainda carente. Em 2021, com o satélite próprio Júpiter 3, a companhia também poderá passar a oferecer velocidades maiores e mais franquias no País com seu serviço. Discute-se até a inclusão de bandas Q/V para avançar na capacidade. "Estamos vendo muita demanda no Nordeste, e Estados do Sul e Sudeste, o que a princípio seria contra-intuitivo porque é serviço que não está no patamar de preço da banda larga fixa", analisa. Os pacotes, ressalta Guimarães, contam com franquia, mas a navegação continua com velocidade reduzida após o consumo total.

Parcerias

O diretor de negócios para América do Sul da Hispamar, Sérgio Chaves, tem outro modelo de exploração: a operadora satelital prefere utilizar parcerias com provedores de acesso e mesmo operadoras, vendendo não somente megahertz, mas também megabits, e no modelo "white-label", em que representantes possam vender o produto de banda larga residencial com a sua própria marca. "Esse é o nosso modelo e já estamos em testes com alguns clientes, será lançado proximamente", declara. A distribuição do acesso poderá ser ou em um produto pré-qualificado pela Hispamar (uma estação V-SAT), ou por meio da própria estratégia do parceiro – via Wi-Fi, por exemplo. Ele ressalta que não ter a verticalização de outras empresas pode não ser uma desvantagem, uma vez que compete no atacado, mas reconhece que há perda de margem por haver intermediários.

Para Lincoln Oliveira, vice-presidente da StarOne, o modelo de oferta de conectividade para empresas de telecomunicações e ISPs por banda Ka tem se mostrado cada vez mais consolidado. "Antes esse era um tipo de solução emergencial, provisória, mas isso tem mudado". A StarOne, por exemplo, tem o seu satélite D1 utilizado praticamente em toda a sua capacidade para atender às demanda de backhaul da Claro (pertencente ao mesmo grupo) e o D2, em fase de contrução, deverá ter a sua capacidade em banda Ka dedicada ao mesmo tipo de serviço.

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