Tim Berners-Lee: avanço da Web também aumenta gargalo para desconectados



A Internet é uma invenção dos anos 70, mas a World Wide Web em si – ou seja, a interface da rede – foi inventada e fundada por Sir Tim Berners-Lee nesta data, 12 de março, há 30 anos. Para marcar o aniversário, em carta aberta, Berners-Lee chamou atenção para a dicotomia da Web, em particular a característica de potencializar os benefícios e os malefícios. Nesse contexto, pede mais ação de governos, sociedade e empresas por uma Internet aberta e com maior respeito aos direitos humanos, tornando a rede um serviço essencial.

Ele endereçou o gargalo dos desconectados, citando algumas das inúmeras funções e serviços disponíveis online atualmente, mas ressalta que a digitalização do mundo acaba por fazer com que a divisão entre os conectados e desconectados aumente. No final do ano passado, a União Internacional de Telecomunicações publicou levantamento no qual estima que 48,8% da população mundial continua sem acesso à Internet. Além disso, relatório de mobilidade da Ericsson, divulgado em janeiro no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, sugere que daqui a cinco anos, ainda haverá 1,9 bilhão de pessoas sem conectividade, o que equivale a 25% da população mundial.

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Berners-Lee também criticou o uso da rede como meio para manipulação. "E ao mesmo tempo que a web foi criando oportunidades, dando voz aos grupos marginalizados e facilitando nossas vidas diárias, também criou oportunidades para golpistas, dando voz àqueles que espalham o ódio e tornando mais fácil a perpetração de todos os tipos de crime", declarou.

O "pai da Web" citou três fontes de desestabilização da rede: ataques patrocinadas por Estado, comportamento criminoso e assédio online; modelo de negócios baseado em anúncios que "recompensam comercialmente o isco [tradução da Web Foundation para clickbait] para o clique e a disseminação viral da desinformação"; e consequências negativas não intencionais, como as discussões polarizadas. Para remediar, sugere leis e regras que enderecem o problema, bem como redesenho de sistemas para "mudar incentivos", e pesquisas sociais para modelar novos sistemas ou ajustar os atuais. Mas pede para que não se caia na armadilha de culpar apenas um governo, rede social ou o "espírito humano".

Ele sugere: "Os governos devem traduzir leis e regulamentos para a era digital. Eles devem garantir que os mercados permanecem competitivos, inovadores e abertos. E eles têm a responsabilidade de proteger os direitos e liberdades das pessoas online. Precisamos de defensores de uma Web aberta dentro do governo – funcionários públicos e autoridades eleitas que agirão quando os interesses do setor privado ameaçarem o bem público e se levantarão para proteger a rede aberta." Para empresas, urge para que plataformas e produtos levem em consideração os direitos humanos, democracia, fatos científicos e segurança pública, além de serem projetados com privacidade, diversidade e segurança by-design.

Mas também chama a sociedade a agir. "Se nós não elegermos políticos que defendam uma Web livre e aberta, se não fizermos nossa parte para promover conversas construtivas e saudáveis online, se continuarmos clicando em consentimentos sem exigir que nossos direitos sobre os dados sejam respeitados, nos afastaremos de nossa responsabilidade de colocar essas questões na agenda prioritária de nossos governos", analisa.

Ele sugere a adoção do Contrato para a Web, uma iniciativa lançada durante o Web Summit em Lisboa reunindo governos, empresas e cidadãos "que concordam que precisamos estabelecer normas, leis e padrões claros que sustentam a Web". Entre as principais causas, está a luta para que a Web seja reconhecida como direito humano e bem público. Segundo Tim Berners-Lee, a expectativa é ter um resultado ainda este ano.

1 COMENTÁRIO

  1. Sugiro aprimorar esse trecho do texto:
    "recompensam comercialmente o isco [tradução da Web Foundation para clickbait]".
    A palavra 'isco' só existe na lingua portuguesa como sufixo.
    Ex: chuvisco.

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