Telecom Italia desiste da BrT. Briga é por preço

A Telecom Italia decidiu dizer que jogou a toalha na questão da Brasil Telecom. Conforme entrevista de Paolo Dal Pino ao jornal Folha de S. Paulo desta sexta, 1, a operadora italiana se diz "cansada" e se o investimento feito não é bem recebido, "vamos sair". O que se desenha agora é o agravamento da crise entre as partes, com mais disputas judiciais. A Telecom Italia informa estar entrando com ações contra os fundos de pensão. Fundos e Citibank, por sua vez, também preparam uma agressiva investida sobre os principais executivos do Opportunity e seus representantes nas empresas objeto de disputa. E, paralelamente, entra em cena uma disputa de poder dentro da Previ, pressões políticas para que o governo aja contra a fundação e muitas informações desencontradas.
Oficialmente, a Telecom Italia não dá mais entrevistas além da que foi dada à Folha. Extra-oficialmente, os executivos da empresa no Brasil confirmam o que informou Dal Pino, ou seja, a Telecom Italia pode desistir de ter uma operação fixa no Brasil, colocando-se como vendedora na Brasil Telecom e não mais como potencial compradora. O problema, em essência, é de preço: a Telecom Italia diz que fundos de pensão e Citibank (os outros sócios) pedem muito e que, nessas condições, não encontrarão comprador. Os italianos vêem o acordo de put estabelecido entre Citi e fundos como um parâmetro de preço que inviabilizaria o negócio. O acordo prevê que ao final de 2007, sob determinadas condições e se não for encontrado um comprador para a parte do banco norte-americano e dos fundos na BrT, os fundos pagarão R$ 1,045 bilhão (corrigidos mais 5% de juros ao ano) ao Citi pelas suas ações na Brasil Telecom.
Por outro lado, a Telecom Italia também estabeleceu um parâmetro de preço nas negociações ao se comprometer a pagar R$ 950 milhões apenas pelas ações do Opportunity na Brasil Telecom (e mais R$ 164 milhões de acertos judiciais). Os valores estabelecidos pela Telecom Italia são, naturalmente, em euros, na cotação de 28 de abril, quando o acordo com Dantas foi fechado.

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Preço "maluco"

Uma fonte da Telecom Italia admite que o preço prometido a Dantas é "maluco" e que só foi estabelecido para se livrar do Opportunity. E mais: Dantas só receberia este valor se fosse concluído o acordo de compra das participações do Citi e dos fundos. A mesma fonte, contudo, diz que esse preço não poderia ser repetido aos fundos de pensão e ao Citibank porque ele é muito alto. E é aí que está o nó da questão.
Os fundos de pensão fizeram um cuidadoso levantamento de preços para comparar o valor colocado no acordo de put (R$ 1,045 bilhão) contra o valor pago pela Telecom Italia a Dantas. E constataram que, em qualquer cenário, o preço pago pelos italianos é muito interessante. Os cenários analisados são: avaliação da Brasil Telecom pelo valor de mercado, avaliação pela expectativa dos analistas e avaliação pelo fluxo de caixa descontado. Também se ponderou a necessidade ou não de pagamento de tag along aos minoritários, e o pagamento ou não de um prêmio de controle.
Em todas as hipóteses, a conclusão da história, segundo o estudo, é a seguinte: se a Telecom Italia pagar aos fundos e ao Citi o preço por ação que pagou a Dantas, o negócio seria certamente fechado. E isso sem considerar que Dantas ainda recebeu uma quantia a mais, por supostas pendências judiciais que teria contra os italianos.
Aliás, segundo esta mesma fonte da Telecom Italia, este montante foi o único pago até agora ao Opportunity. É o preço do que os italianos chamam reservadamente de "chantagem" de Dantas: os US$ 65 milhões para desistir de ações que tem ou poderia ter contra os italianos.
A fonte ouvida junto à TI por TELETIME News afirma que os preços próximos ao do put alegados pela Previ precisam ser analisados dentro de um contexto cambial (relação euro/dólar) e também levar em consideração que os fundos estabeleceram com o Citi uma correção monetária mais uma taxa anual de juros, o que modificaria esta igualdade no momento do pagamento daqui a dois anos. Por outro lado, o put foi fechado com o real mais desvalorizado, o que tornava seu valor em dólares menor. E uma desvalorização da moeda brasileira pode voltar a acontecer nos próximos três anos. Ao dólar de hoje, pelo preço pedido pelos fundos e pelo Citi, os italianos preferem vender suas posições.

Quem compra?

O problema agora é: quem compra a Brasil Telecom se todos querem vender? Telemar? Portugal Telecom? Operadoras internacionais? Todas já apareceram na lista de boatos, mas nenhuma proposta de fato veio a público. Agora, depois que italianos fecharam o acordo com Dantas, a situação se agravou: quem fosse comprar a participação da Telecom Italia, teria que comprar também a parte de Dantas, pelo preço a ele prometido. Não se trata de um tag along com Dantas, explica a fonte, porque essas ações não poderiam ser mantidas pelos italianos pois só assim seria possível efetivar o descruzamento de licenças entre TIM e BrT GSM. De qualquer maneira, a Telecom Italia mostra-se revoltada com a situação. A fonte ouvida por TELETIME News diz que o processo de privatização faleceu; que é vergonhoso o fato de os fundos e o Citibank não cumprirem o acordo de acionistas original, que previa que os italianos seriam os sócios operadores do negócio; e que se os fundos de pensão acreditam que podem gerir a Brasil Telecom (com a sangria que é a operação da BrT GSM) sem um acionista estratégico, "que o façam". A empresa, assim, só perderá valor de mercado.
Do lado dos fundos e do Citi a resposta é clara: interessados para a Brasil Telecom há, e não há pressa para desinvestir. Ambos estão dispostos a tocar a empresa até 2007, e pretendem não só ajustar a companhia como verificar os supostos prejuízos causados na gestão de Daniel Dantas. A Telecom Italia, na visão dos fundos, se dispôs a pagar um preço para um acionista não-controlador, e poderia então pagar o mesmo para os controladores. Mas isso tem que ser negociado, e a proposta não foi feita. O acordo de put foi a forma encontrada para atrair o Citibank para a briga e não havia como afastar Dantas sem a ajuda do Citi.

Pressão política

Ao mesmo tempo em que os fundos de pensão são criticados e processados pela Telecom Italia por terem feito o acordo de put com o Citibank, a Previ vem sofrendo, via imprensa, ataques diretos, liderados pelo presidente da associação dos funcionários do Banco do Brasil, Valmir Camilo. Ele defende publicamente a tese de que Sérgio Rosa, atual presidente da fundação, está comprometendo com sua gestão a administração do fundo. A tese do outro lado é diferente: Rosa e a Previ só decidiram enfrentar Dantas com todas estas armas para terem uma forma de saída das empresas de telecomunicações, já que Dantas era o controlador e único comprador até então, com o suporte do Citi.
Nesta sexta, 1, o senador Heráclito Fortes (PFL/PI) fez duras acusações contra a Previ, dizendo-se em defesa dos interesses dos funcionários do banco. Fortes, que preside a comissão de infra-estrutura do Senado, diz que "uma briga pessoal envolvendo caprichos de Sérgio Rosa não pode fazer com que a Telecom Italia, que é da Pirelli, saia do Brasil". Diz que a fundação vem sendo mal administrada e que o "esquema" é comandado pelo ministro Luiz Gushiken. O senador chegou a elogiar a intervenção na Previ promovida pelo governo Fernando Henrique em maio de 2002 (na ocasião, dizia-se, a pedido de Daniel Dantas, juntamente com a nomeação de Luiz Leonardo Cantidiano, ex-advogado do Opportunity, para a presidência da CVM).

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